O Dia Mundial da doença de Chagas, celebrado em 14 de abril, chama atenção para um agravo negligenciado que, anualmente, afeta mais de seis milhões de pessoas e causa cerca de sete mil mortes em todo o mundo, segundo levantamento da Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (Findechagas). A organização sem fins lucrativos conta com o apoio do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Fiocruz.
De acordo com a Associação, as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19 tem deixado as pessoas afetadas pela doença de Chagas duplamente vulneráveis: tanto pela própria doença quanto pela exposição ao SARS-CoV-2. Além disso, os programas de atenção à saúde têm dedicado atenção quase que exclusiva aos pacientes infectados pelo novo coronavírus.
“Mais uma vez, temos a oportunidade não só de chamar a atenção para a doença, mas de lembrar que o cuidado de que os pacientes precisam deve ser integral. A complexidade desta doença requer enfoques diferenciados. Que o cuidado, o controle e a vigilância possam ser integrados às atividades regulares dos sistemas de saúde locais”, disse a organização em comunicado oficial.
“Por isso, é muito importante que Chagas faça parte das atividades de controle da saúde materno-infantil e que se amplie a formação e a conscientização dos profissionais nos postos de saúde próximos às comunidades rurais e urbanas mais afetadas, em suas diferentes formas de expressão, tanto em países endêmicos quanto não endêmicos”, enfatizou a nota.
A Associação explica que a doença pode causar complicações muito graves se não for diagnosticada e tratada precocemente. Além disso, pode afetar a capacidade das pessoas afetadas de levar uma vida profissional e familiar saudável. “Por tudo isso, o progresso no cuidado à doença não será alcançado por meio de uma única ação ou de um único componente, mas integrando todas as ações necessárias para que o agravo não seja mais considerado negilgenciado”, frisou.
Saiba mais
A doença de Chagas é causada pelo parasito Trypanosoma cruzi, que pode ser transmitido pela picada de insetos triatomíneos, popularmente conhecidos como barbeiros, e pela contaminação de alimentos, seja pela presença do vetor ou de suas fezes. Se a mãe infectada não for tratada, o T. cruzi também passa da gestante para o filho durante a gravidez. Transfusões de sangue e transplantes de órgãos são outras vias possíveis de infecção, quando não são adotadas medidas adequadas de prevenção.
Logo após o contágio, medicamentos podem eliminar o parasito e levar à cura. Porém, a enfermidade frequentemente não apresenta sintomas na fase inicial e as pessoas afetadas têm baixo acesso aos serviços de saúde. Estimativas apontam que menos de 10% dos casos são diagnosticados oportunamente e apenas 1% recebe o tratamento adequado. Como resultado, após décadas de infecção, cerca de 30% dos indivíduos desenvolvem problemas cardíacos e 10% têm distúrbios digestivos, neurológicos ou mistos. As lesões prejudicam de forma significativa a qualidade de vida e podem levar à morte.
Descoberta no Brasil
Escolhido como Dia Mundial, o 14 de abril lembra a data de 1909 em que Carlos Chagas, pesquisador do IOC, identificou, pela primeira vez, o T. cruzi em uma paciente. Publicada na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, a descrição do ciclo da doença, incluindo caracterização do agente causador, do inseto transmissor e do conjunto de sintomas, foi um dos feitos mais emblemáticos da ciência brasileira.
Despedida de um grande pesquisador em Chagas
No mês em que é celebrado o Dia Mundial de Chagas, despedimo-nos do ilustre pesquisador José Rodrigues Coura. Um dos cientistas mais influentes do planeta, segundo levantamentos realizados pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e pela Agência de Gestão da Informação Acadêmica da Universidade de São Paulo (Aguia/USP), Coura fez contribuições importantes no estudo da doença de Chagas.
Em 2019, quando o Dia Mundial da Doença de Chagas foi estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ele comentou: “A OMS tem dias para muitas doenças, e Chagas era esquecida por ser uma infecção limitada à América Latina. Foi um escândalo quando publiquei um artigo com Pedro Albajar chamando atenção para a presença da doença em países de primeiro mundo e a necessidade de medidas para conter o risco de transmissão por transfusões de sangue e doações de órgãos [Nature, 2010]”, o que traduz uma de suas numerosas contribuições no campo.
Ciência e Arte para dar visibilidade à Doença de Chagas
Em contribuição para o aumento de visibilidade da Doença de Chagas, a próxima edição do Simpósio de Ciência, Arte e Cidadania abordará o tema com a presença de pesquisadores de referência na área. O encontro está marcado para o dia 29/04, às 18h, com transmissão no canal da Rede de Ciência, Arte e Cidadania no Youtube.