Em um momento em que o mundo assiste a uma nova alta de casos de Covid-19, análises preliminares de um estudo de segurança e imunogenicidade indicam que o uso da vacina AstraZeneca como dose de reforço aumenta a resposta imune contra as variantes de preocupação Beta, Delta, Alfa e Gama. Uma análise feita separadamente com amostras da pesquisa revelam ainda o aumento da resposta dos anticorpos contra a Ômicron, que vem causando uma nova onda da doença.
Os estudos foram feitos com pessoas previamente vacinadas com a AstraZeneca, fabricada no Brasil pela Fiocruz, ou vacinas de mRNA, e mais resultados devem ser conhecidos ainda neste primeiro semestre de 2022. Um ensaio separado (Fase IV, publicado na forma de preprint na revista científica The Lancet) mostrou ainda que uma dose de reforço da AstraZeneca elevou o nível de anticorpos de quem havia tomado duas doses de Coronavac.
Estes dados somam-se a evidências que apoiam o uso da AstraZeneca como dose de reforço, independentemente do esquema vacinal primário adotado. A empresa AstraZeneca está submetendo as novas informações a autoridades de saúde em vários países, num momento em que alguns – como Estados Unidos, Israel e o próprio Brasil – que já adotam a dose de reforço.
“Estes importantes estudos mostram que uma terceira dose de Vaxzevria [AstraZeneca] após duas doses iniciais da mesma vacina, ou após vacinas de mRNA ou vírus inativado, aumenta fortemente a imunidade contra a Covid-19. A vacina Oxford-AstraZeneca é uma opção adequada para aumentar a imunidade na população de países que consideram programas de reforço, somando-se à proteção já demonstrada nas duas primeiras doses”, declarou Andrew J. Pollard, pesquisador chefe e diretor do Grupo de Vacinas da Universidade de Oxford.
Pesquisas
Estudos prévios já defendiam o uso de uma dose de reforço da AstraZeneca como parte de um esquema homólogo (todas as doses da mesma vacina) ou heterólogo (duas doses de uma vacina e reforço de outra). Num estudo feito no Reino Unido, a dose de reforço da AstraZeneca aplicada ao menos seis meses após o esquema vacinal completo aumentou significativamente o nível de anticorpos e manteve a resposta das células T (com funções imunológicas relacionadas a respostas antivirais). Também resultou numa neutralização maior contra as variantes Alfa, Beta e Delta, quando comparada à aplicação de apenas duas doses. Outro estudo, também no Reino Unido, mostrou que uma terceira dose da AstraZeneca induziu uma resposta imunológica mais alta no controle contra a Delta e a cepa original após a aplicação das duas doses da AstraZeneca ou da Pfizer.
O estudo agora em desenvolvimento – e que mostrou um aumento da resposta contra Beta, Delta, Alfa e Gama – usou amostras coletadas 28 dias após a aplicação da dose de reforço. A análise preliminar incluiu indivíduos que haviam recebido duas doses da AstraZeneca ou de vacina de mRNA, ao menos três meses após receberem a segunda dose.
O ensaio de Fase IV avaliou a segurança e a imunogenicidade de uma dose de reforço heteróloga da AstraZeneca, de uma vacina de mRNA (Pfizer/BioNTech) ou de uma vacina de vetor recombinante de adenovírus (Janssen). Elas foram comparadas a uma dose de reforço homóloga da Coronavac em adultos no Brasil que haviam recebido previamente duas doses desta vacina, a Coronavac, nos seis meses anteriores. Entre 16 de agosto e 1 de setembro de 2021, 1.240 participantes foram escolhidos para receber a dose de reforço em São Paulo e Salvador.
Os primeiros resultados demonstram níveis não inferiores de anticorpos anti-spike IgG 28 dias após a dose de reforço no esquema heterólogo em comparação com o regime homólogo.
Efeito contra a Ômicron
Uma outra pesquisa publicada em dezembro, realizada de forma independente por pesquisadores de diferentes instituições, incluindo da Fiocruz e da Universidade de Oxford, mostrou que uma dose de reforço da AstraZeneca aumenta significativamente os níveis de anticorpos neutralizantes contra a Ômicron. Os resultados foram publicados em forma de preprint na plataforma bioRxiv (Omicron-B.1.1.529 leads to widespread escape from neutralizing antibody responses). Os anticorpos foram aumentados em 2,7 vezes após uma terceira dose da AstraZeneca.
Dados de um outro estudo de laboratório (Broadly neutralizing antibodies overcome Sars-CoV-2 Omicron antigenic shift) reforçam o efeito da vacina AstraZeneca contra a Ômicron: neste caso, os indivíduos vacinados com as duas doses mantiveram ação neutralizadora contra a nova variante, embora com uma redução em comparação à cepa original. A vacina AstraZeneca/Fiocruz tem demonstrado ser capaz de induzir uma resposta diversificada e duradoura a múltiplas variantes.