Imagem: Radiological Society of North America

Ação de 50 compostos sintéticos será testada contra o novo coronavírus

Em projeto apoiado pela FAPESP, pesquisadores da Unesp vão avaliar o potencial de peptídeos e outras moléculas bioativas de inibir a infecção de células em cultura.

Pesquisadores do Instituto de Química de Araraquara (IQA) em colaboração com pesquisadores do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), ambos vinculados à Universidade Estadual Paulista (Unesp), estão testando uma biblioteca com dezenas de peptídeos bioativos para avaliar sua possível ação contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2).

O estudo é apoiado pela FAPESP e coordenado por Eduardo Maffud Cilli, diretor do IQA-Unesp.

“O objetivo é identificar e investigar o potencial de peptídeos e bioconjugados [união de duas moléculas bioativas] inibidores de infecção por SARS-CoV-2. Avaliaremos a toxicidade e a atividade antiviral dessas moléculas em diferentes ensaios que nos darão informações sobre seu potencial de inibição em diferentes etapas do ciclo replicativo do vírus, como a entrada nas células e a multiplicação no citoplasma”, diz à Agência FAPESP o pesquisador Paulo Ricardo da Silva Sanches, que participa da equipe engajada no estudo.

“Os ensaios com linhagens celulares de pulmão humanas e de rim de macaco já foram iniciados e o próximo passo é avaliar a ação dos compostos, que apresentarem baixa toxicidade, em células infectadas por SARS-CoV-2”, complementa o pesquisador.

Sanches afirma que um dos compostos com grande potencial é o ácido gálico-hecate (AG-hecate), que apresenta baixa toxicidade em células sadias e já se mostrou um poderoso agente antiviral contra o vírus zika (ZIKV) e o vírus da hepatite C (HCV), além de atacar também bactérias, fungos e células cancerosas. As propriedades desse composto, sintetizado no IQA-Unesp, já foram objeto de artigo publicado em Scientific Reports (leia mais em: agencia.fapesp.br/29182/).

“O AG-hecate é um bioconjugado que foi sintetizado a partir do composto natural ácido gálico e do peptídeo hecate. Um dos alvos propostos para esse composto é o envelope viral [a camada de lipídeos que envolve o material genético de alguns vírus]. Assim como o zika e o HCV, o SARS-CoV-2 apresenta esse envelope lipídico que poderá, também, ser alvo para o AG-hecate”, explica Sanches.

“A avaliação de anti-inflamatórios comerciais em conjunto com os compostos antivirais delineará um possível tratamento combinado, visando à diminuição da carga viral concomitante ao controle da inflamação, comum em casos graves da doença”, complementa Cilli.

Além de Cilli e Sanches, compõem a equipe desse projeto a professora Paula Rahal e as pesquisadoras Cintia Bittar e Marília Calmon, do Ibilce-Unesp.