Um grande projeto da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP em curso desde 2000 planeja agora sua terceira fase. Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (Sabe) é uma extensa pesquisa realizada com idosos do município de São Paulo, trazendo indicadores sobre vários campos da vida deste segmento populacional, que aumenta a cada dia, e sobre o qual dados que ajudem na formulação de políticas públicas ainda são escassos.
O Sabe é um dos únicos estudos longitudinais com entrevistas e avaliações repetidas com as mesmas pessoas no decorrer de um longo período de tempo do país sobre saúde e condições de vida de idosos. Assim que obtivermos o financiamento, como esperamos, iremos a campo novamente para reentrevistar as duas coortes [grupos de pessoas com características em comum, neste caso ter 60 anos ou mais] já entrevistadas em 2000 e 2006 e vamos introduzir uma terceira, prevê a professora da FSP Maria Lúcia Lebrão, coordenadora da pesquisa.
Deste modo, como explica Yeda Duarte, professora da Escola de Enfermagem (EE) da USP, pode-se acompanhar tanto o envelhecimento das pessoas frente aos serviços e condições disponíveis atualmente, quanto o que está mudando nos padrões de envelhecimento, já que os três grupos nasceram em épocas diferentes: o primeiro antes da Segunda Guerra Mundial; o segundo durante, e o terceiro depois.
Fragilidade
Yeda coordena um subprojeto que é um dos destaques da iniciativa. A pesquisa Fragilidade influenciou em uma decisão do Ministério da Saúde, anunciada no último dia 5, de incluir o tema na Caderneta de Saúde do Idoso. A caderneta é um documento que o idoso deve carregar consigo, trazendo informações como controle de peso, glicemia e medicação utilizada.
Segundo a professora da EE, fragilidade é uma condição clínica que deve incluir pelo menos três dos seguintes fatores: perda de peso; fadiga; diminuição nas atividades físicas; diminuição da força de prensão manual (sentir-se fraco, por exemplo, para carregar objetos); e andar mais devagar. E a presença de um dos fatores já indica uma condição pré-frágil, diagnóstico que pode evitar a evolução para o estado de fragilidade caso sejam adotadas medidas adequadas.
As entrevistas com maiores de 75 anos e análises de dados realizadas de 2008 até agora especificamente para o subprojeto demonstraram que uma parte significativa e crescente da população de idosos encontra-se neste estado: 25% do grupo estudado quando na população mundial este número gira em torno de 7 a 10% subindo para 46% no mesmo grupo após apenas dois anos.
O estudo investigou ainda os fatores (problemas de saúde) bem como os desfechos adversos (queda, hospitalização, dificuldades em atividades da vida diárias, institucionalização em asilos e casas de repouso, e óbito) associados à fragilidade. Os resultados sugerem ações preventivas, como por exemplo, um acompanhamento mais intensivo de idosos obesos, com doenças crônicas ou hospitalizações recentes.
Na questão do bem-estar da população idosa, a professora Maria Lúcia ressalta a também a importância do cuidador. Ainda não temos uma política adequada para cuidadores profissionais, geralmente os cuidadores são familiares que recebem uma grande carga de estresse e muitas vezes familiares que já são idosos cuidando de idosos mais velhos, relata. A partir dos dados da pesquisa, a equipe do projeto Sabe contribuiu para a criação, por parte da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, de um programa pioneiro de acompanhantes de idosos, em que agentes oferecem companhia, escuta, acompanhamento em atividades externas, e ajuda para realizar os cuidados pessoais para idosos com ausência de apoio ou apoio insuficiente da família. Nossa equipe tem um diálogo muito bom com as secretarias e o Ministério da Saúde e estamos sempre trabalhando em parceria, comenta.
Originado em uma ação internacional capiteneada pela Organização Panamericana da Saúde (OPAS), no Brasil o Sabe tem apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Ministério da Saúde Área Técnica do Idoso.