“Não conheço ninguém que seja contra seu uso, até porque diversos estudos mostram que ele traz conforto às pacientes, que não traz problemas clínicos para o bebê e que não aumenta o índice de cesárea ou o do uso de fórceps, o que é ótimo”, diz o médico, lembrando de alguns efeitos colaterais que podem ocorrer, como tontura (veja ao lado).
“Outra vantagem é que ele é eliminado rapidamente, em questão de minutos, do organismo, não fica no rim nem no fígado. Ou seja, é uma ótima alternativa para as pacientes que não querem a peridural ou que desejam esperar um pouco mais para tomá-la.”
Para o anestesista, é preciso lembrar da importância de ter um profissional cuidando da analgesia da mulher – e outro do parto em si. Para ele, não há impedimento para que outros profissionais como uma obstetriz acompanhe o uso do gás.
“Eu particularmente não gostei, achei que me deixou grogue e sem noção dos acontecimentos, me causou muita náusea e eu parei de usar em menos de uma hora.”
“Mas há hoje um limbo, já que as faculdades contam com essa técnica em seus currículos”, diz, lembrando que dentistas fazem um curso suplementar para receberem treinamento para usar o óxido nitroso.
Delícia x tontura
Brasileiras que usaram o gás hilariante em seus partos fora do país relataram à BBC Brasil como foi a experiência.
Elas pariram seus filhos em hospitais britânicos e tiveram reações diferentes ao óxido nitroso, que é conhecido por lá também como “gas and air” ou pelo nome de uma das marcas, Entonox, e é usado por mais da metade das grávidas, seja em maternidades ou em partos domiciliares.
“Minha experiência com o gás (na Irlanda) não foi muito boa. A dor não diminuiu e eu fiquei completamente tonta. Não acho também que fui instruída corretamente. Deve-se aspirar o gás entre as contrações, eu fazia isso o tempo todo, durante e entre as contrações.”
Para a fotógrafa e doula Letícia Valverdes, que teve dois de seus três filhos em Bristol (Inglaterra), o gás foi a ajuda que ela precisava.
“No meu primeiro parto (na Inglaterra), eu não queria anestesia peridural, mas queria uma ajudinha. Então, usei o óxido nitroso e foi uma delícia, aliviou muito a dor”, conta.
“No meu segundo filho, mal entrei na maternidade e já pedi gas and air. Meu terceiro filho eu tive no Brasil, então já sabia que não poderia contar com o gás. Usei bola e outros métodos para aliviar a dor, mas senti falta do gás. Acho que uma dica é não usá-lo logo de cara, esperar um pouco, porque se não no final o gás pode não dar conta da dor.”
Já para a professora Daniela Yallouz Rodbande, mãe de duas filhas, só foi possível perceber o impacto do gás em seu segundo parto: “Eu tive minha primeira filha na Inglaterra e usei o gás lá. Confesso que na época achei que não tinha ajudado muito. Mas no parto da minha segunda filha, já no Brasil, vi que fez muita diferença, sim, que ele tirava o pico da dor. Na hora das contrações, pensava muito em como seria ótimo se tivesse um gás também!”
Já a jornalista Andreia Nobre e a parteira Suzan Correa tiveram tiveram problemas com o uso do gás.
“No meu primeiro parto, fiquei grogue, não gostei. No segundo, usei corretamente, ou seja, para me ajudar a respirar mais profundamente e aliviar a dor – e me ajudou”
“Aqui na Inglaterra, o gás é uma das primeiras opções de analgesia oferecidas e também muito pedida pelas mulheres. O feedback que recebemos varia muito”, conta Suzan.
“Vejo mulheres que usam até o final (do nascimento) e não têm problemas ou efeitos colaterais nenhum e relatam que o Entonox foi essencial. Mas também vejo mulheres que não conseguem tolerar os efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e tonturas. Eu particularmente não gostei, achei que me deixou grogue e sem noção dos acontecimentos, me causou muita náusea e eu parei de usar em menos de uma hora.”
Andreia conta que, no primeiro parto, não gostou de usar o gás porque ele lhe deixou zonza. “Uma hora, perguntei para o meu marido que diabo era aquele programa em português na TV. É claro que o programa não era em português, eu que estava com tontura.”
Mas relata que, no segundo parto, a experiência foi melhor: “Eu usei corretamente dessa vez. Ou seja, para me ajudar a respirar mais profundamente e aliviar a dor – e me ajudou muito. Apenas depois de algumas horas de trabalho de parto, pedi uma peridural.”