Pesquisadores do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP estudam as possibilidades de utilização de laser na cura de úlcera venosa, decorrente de problemas causados pela má circulação, principalmente em idosos. Sob orientação do professor Vanderlei Bagnato, a aluna de pós-doutorado Vitória Maciel tem dedicado seu tempo para encontrar uma solução para o problema. Desde o início de 2014, a pesquisadora verifica a eficácia do método, que tem grande poder de cicatrização, para curar as úlceras.
No entanto, quando as úlceras estão infectadas, por causa da exposição ao ambiente, a emissão de laser sobre elas é contraindicada. Foi quando Vitória, em parceria com outros pesquisadores do grupo, entre eles Patrícia Ramirez, decidiu usar um tratamento combinando de terapia fotodinâmica (desinfecção das feridas) e laser (cicatrização), também acrescentando ao tratamento o uso de pele artificial (biomembrana), que auxilia na cicatrização e protege o ferimento.
Com a “fórmula” do tratamento em mente, Vitória resolveu fazer uma triagem de voluntários para aplicar as técnicas terapêuticas mencionadas acima. Em princípio, 50 pacientes serão selecionados e os testes tiveram início em setembro do ano passado. “Os pacientes foram encaminhados por médicos da rede pública de saúde e estão recebendo nosso tratamento gratuitamente. Enquanto a úlcera não desaparece completamente, continuamos com o tratamento”, explica Vitória.
Antes de dar início à terapia, a pesquisadora fotografa as feridas e retira uma amostra de tecido para análise bioquímica. O próximo passo é a higienização do ferimento. Quando infeccionada, ela recebe a terapia fotodinâmica. Caso contrário, entra-se diretamente com a terapia de laser de baixa intensidade e inserção da pele artificial. Pacientes mais jovens costumam responder mais rapidamente, bem como feridas menores ou abertas há menos tempo. “Conseguimos solucionar uma úlcera aberta na perna de um paciente há dois ou três anos em dois ou três meses”, conta a pesquisadora. “Feridas pequenas podem sanar completamente em 45 dias”.
Tratamento
As sessões são realizadas duas vezes por semana e demoram cerca de uma hora a uma hora e meia, dependendo do tamanho da lesão. Até o momento, dos 50 pacientes selecionados para primeira etapa do tratamento, dez já foram dispensados, e o tratamento foi bem-sucedido em todos os casos. “Com nosso tratamento, a ferida demora menos da metade do tempo para fechar, se comparado com os tratamentos tradicionais. Os médicos estão satisfeitos com nossos resultados”, comemora a pesquisadora. O pós-doutorado da pesquisadora será finalizado em um ano. Passado esse tempo, o tratamento já poderá ser disponibilizado à população. “Já poderíamos disponibilizar o tratamento agora mesmo, caso os profissionais de saúde recebessem treinamento adequado”, afirma.
O bombeamento de sangue das artérias do coração aos dedos dos pés é um fluxo constante e de dupla via. Ou seja, os membros inferiores, ao receberem o sangue, posteriormente, precisam devolvê-lo ao coração. Quando esse caminho inverso não é bem-sucedido, a consequência é a acumulação de sangue nas veias das pernas, formando as conhecidas varizes. A pressão, acrescida do congestionamento de sangue nas varizes prejudica, entre outras coisas, o abastecimento dos tecidos com oxigênio e nutrientes, causando inchaço nas pernas e pés e tornando a pele extremamente vulnerável a feridas que, por fim, podem dar início às úlceras.
Inúmeras são as más consequências da enfermidade que afeta a vida física e psicológica daqueles acometidos pelas feridas que, em muitos casos, podem ficar abertas por mais dez anos. No Brasil, num estudo feito com 1755 pacientes, mostrou-se uma prevalência de veias varicosas em 47% dos casos, com presença de úlcera ou cicatriz de úlcera em 3.6 %. Finalizado os tratamentos de úlceras venosas, Vitória conta que pretende dar continuidade ao projeto, mas, dessa vez, com foco em úlceras de forma geral, inclusive as úlceras diabéticas, com a melhoria do método de análise das feridas e da apresentação do fotossensibilizador, contando com a parcerias como o da docente do Departamento de Morfologia e Patologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Fernanda de Freitas Anibal e da pós-doutoranda do GO, Fernanda Carbinatto.
Outro foco de futuras pesquisas da pós-doutoranda é também no tratamento de diferentes tecidos que vise à melhora da condição da pele como um todo, inclusive com foco também na área estética, ou seja, na melhora de rugas, estrias e celulites. “A ideia futura é partir da patologia para a estética, pois tudo aquilo que você já sabe que funciona bem num tecido lesado, certamente funcionará num tecido em melhores condições”, finaliza Vitória.