A antiga Colônia Juliano Moreira, inaugurada em 1924 como instituição psiquiátrica para "alienados", em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, deverá abrigar um grande centro de pesquisas para redução de desastres. O local escolhido foi o Pavilhão Nossa Senhora dos Remédios, que recebeu durante décadas mulheres tuberculosas com problemas de saúde mental.
Fica no trecho da colônia cedido pelo governo federal à Fundação Oswaldo Cruz, onde será instalado o campus Fiocruz da Mata Atlântica. Inserido no Parque Estadual da Pedra Branca e vizinho do Projac (central de produção da Rede Globo), o terreno tem 500 hectares. Ocupa mais da metade da colônia e é do tamanho da Ilha do Fundão, na zona norte, onde fica a cidade universitária da UFRJ.
A Fiocruz está na colônia desde 2003, quando houve a cessão provisória do terreno, inicialmente para pesquisas de fitoterápicos. Em 2007, a fundação conseguiu garantir a cessão por 50 anos, e em 2008 iniciou-se o processo de doação definitiva, que só será concluído com a regularização fundiária. O novo centro de pesquisas é apontado como "âncora" do projeto tocado pela instituição.
Atualmente, 225 famílias moram na área destinada ao campus. A Fiocruz afirma que ninguém será removido. Os 850 moradores cadastrados seriam integrados e receberiam a posse das terras – aqueles que vivem em áreas consideradas de risco receberiam outras casas.
"Esse é o diferencial", afirma o sociólogo Gilson Antunes da Silva, coordenador executivo do Programa de Implementação do campus Fiocruz da Mata Atlântica. Estão previstas a reforma urbanística da área situada fora do parque (metade do terreno) e um conjunto de ações de educação sustentável e recuperação ambiental, com a construção de redes de água, esgoto e energia. Um "território saudável", na definição do coordenador, que mostra mapas, plantas e maquetes. "A ideia é criar um bairro diferenciado, com bosques e ciclovias."
Além da Fiocruz, UFRJ, UFF, Governo do Estado e Secretaria Nacional de Defesa Civil também estão envolvidos no projeto do centro de pesquisas. A ideia é criar cursos de especialização, mestrado e doutorado. "O objetivo é tratar de fenômenos extremos, desastres naturais e antrópicos, das relações entre saúde e ambiente. São grandes temas que estão emergindo", diz Silva.
Ele cita como exemplos mudanças climáticas, zoonoses, bioterrorismo, poluição química e ações para prevenir enchentes e deslizamentos de terra – como os que mataram 53 pessoas em Angra dos Reis e na Ilha Grande, no réveillon.
"Não há previsão para fenômenos extremos. Mas há a possibilidade de se fazer um trabalho de prevenção. É aí que entra a Fiocruz", diz o coordenador. "Queremos criar uma sala de situação e formar massivamente especialistas na área. A gente não tem isso hoje. Falta ação prévia de diagnóstico, como classificar áreas de risco. Efeitos podem ser evitados."
Segundo ele, é preciso cada vez mais antever e influir junto aos municípios para regular riscos. "Antes, havia uma visão de que Deus é brasileiro e nada nos afetará. Mas temos que nos preparar para enfrentar os problemas." O projeto executivo do novo centro está pronto, à espera do fechamento de uma parceria para o investimento inicial estimado de R$ 14 milhões. A previsão é de que sejam necessários três anos de obras.
Também está previsto no projeto um Centro Nacional de Desenvolvimento de Produtos Naturais, ao custo de R$ 12 milhões, e mais R$ 10 milhões para recuperação de prédios históricos, pavimentação e saneamento. Esse dinheiro sairia do Ministério do Planejamento.
A Fiocruz apresentou ainda ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) projetos para a construção de uma vila olímpica, um complexo educacional com horto-escola, um centro cultural e um parque ecológico dentro do campus. "Isso foi levado ao Comitê Olímpico Internacional no livro para a Rio 2016. Estamos usando a chancela para buscar financiamentos", conta Silva. Segundo ele, técnicos da entidade fizeram um estudo em que foi levantada até a carência de vagas (9 mil) no ensino médio naquela região da zona oeste.
Filho de funcionários da colônia, Altair Henrique Dimas foi contratado como guia pela Fiocruz. "A satisfação é que não vão tirar o pessoal e jogar em outra área", diz ele, que tem oito parentes morando lá dentro.
Não se sabe ainda que destino terá a igrejinha da Assembleia de Deus instalada perto da sede da fundação. A Fiocruz estima que, com tudo pronto, cerca de 2 mil pessoas deverão circular pelo campus. Estão previstos outros investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em trechos da colônia que ficam fora do campus e em áreas pobres no entorno na Juliano Moreira.
(Felipe Werneck)
(O Estado de SP, 7/2)