Núcleo do Hospital Universitário da USP integra o maior estudo epidemiológico do País

Relação entre estresse no trabalho e enxaqueca, uso de medicamentos psiquiátricos, fatores de risco para diabetes e incidência de AVC na região amazônica. Estes são apenas alguns dos temas abarcados pelos estudos do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica (CPCE) do Hospital Universitário (HU) da USP, dedicado às diversas áreas que envolvem a pesquisa da área de saúde em seres humanos.

Em atividade desde 2008, o Centro ocupa o quarto andar do HU, onde são realizados os exames, coletas e entrevistas que alimentam esses estudos. A estrutura compreende ainda um laboratório de processamento de material biológico e a bioteca, onde são armazenadas as amostras biológicas. Essa infraestrutura, que é única no campus do Butantã, atrai pesquisadores de diversas unidades, como do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), em uma interação que pode ser independente da atuação do Centro, mas que viabiliza também estudos interdisciplinares.

Tal configuração levou à transformação do Centro em um dos Núcleos de Apoio à Pesquisa (NAP) da USP, em 2012. “A criação do NAP cristalizou, formalizou o que a gente já estava fazendo”, conta o coordenador do núcleo, Paulo Andrade Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Lotufo, que também é coordenador da Divisão de Clínica Médica e Presidente da Câmara de Pesquisa do HU, explica que a maior parte dos recursos para a montagem do Centro veio do Elsa, sigla para Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, projeto apoiado pelo Ministério da Saúde e diversas outras instituições de fomento à pesquisa.

O Elsa envolve cerca de 15 mil voluntários, todos funcionários de instituições públicas de ensino superior e pesquisa de seis estados brasileiros. Essas pessoas serão acompanhadas ao longo de vários anos pelos seis Centros de Investigação para verificar a incidência e os fatores de risco associados a doenças crônicas, em especial o diabetes e doenças cardiovasculares. “Os voluntários são chamados a cada quatro anos para a realização de exames, e a cada ano também entramos em contato para saber se a pessoa teve alguma doença, se realizaram alguma cirurgia ou foram internados, por exemplo”, explica Lotufo.

O acompanhamento deste grupo de pessoas por vários anos é o que caracteriza o Elsa como um estudo longitudinal, o que torna possível investigar a incidência das doenças no País, as mudanças com o passar do tempo e seus fatores de risco. “O Elsa e os outros estudos que surgiram dele têm essa característica longitudinal, ou seja, não vão acabar nunca. Muita gente vai poder usar os resultados desses estudos, vai ser um patrimônio da Universidade. Isso que é o mais importante”, considera o médico, coordenador do Elsa em São Paulo.

Além de sediar o Centro de Investigação do Elsa em São Paulo, o HU, por meio do CPCE, também centraliza toda a parte laboratorial e de imagens, como ultrassonografias e tomografias. No laboratório gerenciado pela farmacêutica Lígia Giongo Fedeli, são recebidos exames de todo País, que são organizados em palhetas e armazenados em tanques de nitrogênio líquido para posterior análise.

Entre os resultados mais importantes obtidos pelo CPCE por meio do Elsa está um estudo que relaciona estresse no trabalho com uma maior frequência de episódios de enxaqueca, uma relação pouco conhecida até então. Outro grande feito do projeto foi a primeira descrição da aterosclerose no Brasil, doença caracterizada pelo depósito de material gorduroso e outros elementos nas paredes das artérias.

Desdobramentos
Ao viabilizar a estruturação física do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica, o Elsa tornou possível a realização de diversas pesquisas, vinculadas ou não ao estudo, e também deu origem a outros subprojetos.

“Um dos objetivos do Elsa era justamente esse: não só fazer a pesquisa em si, mas criar uma rede de centros equipados”, conta Paulo Lotufo. Segundo o coordenador do CPCE, uma possibilidade do projeto era encaminhar os exames a outros laboratórios, o que seria mais simples e barato, mas a intenção é que se criasse uma estrutura permanente para a Universidade.

Entre os estudos surgidos do Elsa está o Advento, sigla para Análise de Dieta e Hábitos de Vida na Prevenção de Eventos Cardiovasculares em Adventistas do Sétimo Dia. O estudo busca acompanhar a saúde de um grupo de indivíduos adventistas, que adotam dieta vegetariana, observando seu impacto no aparecimento de alterações cardiovasculares e outros fatores de risco.

Há ainda projetos que acompanham pacientes com doença renal, pessoas que tiveram acidente vascular cerebral (AVC), entre outros estudos longitudinais.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Mais informações: email palotufo@usp.br

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