Mosquitos ameaçam Galápagos

As ilhas Galápagos, no oceano Pacífico, estão a cerca de mil quilômetros a oeste da costa do Equador, país a que pertencem. Das 58 ilhas, apenas quatro são habitadas. O arquipélago conta com notável biodiversidade, que inclui espécies como as célebres tartarugas-das-galápagos (Geochelone nigra spp.).

Desde que encantou o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), tendo sido fundamental para a produção da teoria da evolução por meio da seleção natural, a região é considerada pelos cientistas um dos maiores “laboratórios vivos” do mundo.

As Galápagos são consideradas, desde 1978, patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Mas desde 2007, apesar de manter intactas estimados 95% de sua biodiversidade original, passaram a integrar a lista dos patrimônios em risco, devido ao crescente turismo e imigração – desde 1991, o número de turistas saltou de 41 mil por ano para 160 mil.

Outra grande ameaça são as espécies invasoras. Um novo estudo destaca uma delas: o mosquito Culex quinquefasciatus, no Brasil popularmente chamado de pernilongo ou muriçoca. O inseto teria sido introduzido nas Galápagos em meados da década de 1980, levado por aviões, e continua a ser transportado regularmente desde então, cruzando com espécies locais.

“Em média, o número de mosquitos por aeronave é pequeno, mas muitos voos chegam todos os dias de modo a atender à crescente demanda do turismo. E os mosquitos sobrevivem e se reproduzem pouco depois que deixam os aviões”, disse Arnaud Bataille, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, um dos autores da pesquisa.

O trabalho, feito por pesquisadores britânicos e equatorianos, terá seus resultados publicados esta semana pela revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.

Os mosquitos do gênero Culex são importante vetor de diversas doenças como malária aviária ou a febre do oeste do Nilo. Sua introdução no Havaí, no fim do século 19, teve um grande impacto em espécies locais, como de aves endêmicas no arquipélago norte-americano. Das 42 espécies de beija-flor existentes, 23 desapareceram por conta de doenças que se estimam terem sido transmitidas por mosquitos.

“Nossa pesquisa indica que o cenário está montado para um desastre semelhante ao ocorrido no Havaí. A menos que ações de mitigação imediatas sejam tomadas, é apenas uma questão de tempo até que a vida selvagem nas Galápagos tenha o mesmo destino dos beija-flores havaianos”, disse Andrew Cunningham, cientista sênior da Sociedade Zoológica de Londres e autor do estudo.

“O governo do Equador introduziu recentemente uma medida para que todas as aeronaves que têm as Galápagos como destino sejam desinsetizadas, mas a eficácia disso ainda não pode ser avaliada. Além disso, tal medida deve também ser aplicada em navios”, disse outro autor, Simon Goodman, da Universidade de Leeds.

O artigo Evidence for regular ongoing introductions of mosquito disease vectors into the Galapagos Islands, de Eudald Carbonell, do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social, e outros, pode ser lido por assinantes da Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences em http://rspb.royalsocietypublishing.org.

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