Fiocruz detecta presença de poliovírus no país

Pesquisadores do Laboratório de Referência Nacional de Enteroviroses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) confirmaram a presença de poliovírus em amostras coletadas em São Paulo, no monitoramento do esgoto do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. Por meio de análises genéticas, os pesquisadores identificaram que o vírus encontrado nas amostras coletadas em março é similar a uma cepa recentemente isolada de um caso na Guiné Equatorial. É importante no entanto salientar que nenhum caso foi constatado em humanos. A confirmação do diagnóstico e a identificação da linhagem genética da amostra foi coordenada pelo pesquisador Edson Elias da Silva, chefe do Laboratório de Enterovírus.

A vice-diretora de Serviços de Referência e Coleções Biológicas do IOC, Eliane Veiga da Costa, ressaltou o protagonismo do Instituto enquanto referência no tema. “Há mais de 20 anos prestando serviços alinhados aos padrões internacionais estabelecidos pela OMS, o laboratório identificou e sequenciou as amostras seguindo o protocolo de referência. Os resultados da análise foram emitidos dentro do prazo de cinco dias, após o recebimento das amostras”, destacou. “Recentemente, o IOC sequenciou geneticamente umas das últimas amostras do vírus a circular no Brasil, na década de 1980, o que contribui para o trabalho de comparação genética em relação a possíveis casos da doença no país”, acrescentou a vice-diretora. Clique aqui para saber mais sobre o estudo.

As amostras foram analisadas por meio de técnica de sequenciamento e de PCR em tempo real. Após a confirmação, o laboratório, que atua como referência nacional no tema junto ao Ministério da Saúde e referência para a região das Américas junto à Organização Mundial da Saúde (OMS), informou os resultados aos órgãos competentes – o Ministério da Saúde e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), que efetuou recentemente o envio da amostra -, além da Organização Pan-Americana de Saúde, Organização Mundial da Saúde e do Centers for Disease Control and Prevention (CDC). O Brasil erradicou a doença em 1989. Já na América Latina, não há casos registrados desde 1991. Atualmente, mais de 95% da população brasileira está vacinada contra a poliomielite. Em alerta divulgado na segunda-feira (23/6), a OMS ressaltou que autoridades de saúde brasileiras aumentaram as atividades de vigilância com o objetivo de detectar a transmissão do poliovírus selvagem tipo 1 e potenciais casos de poliomielite paralítica, assim como pessoas sem imunização.

O laboratório

O laboratório foi o primeiro a identificar, em 1989, a presença no Brasil do Enterovírus 71, causador de doença paralítica, indistinguível daquela causada pelos poliovírus selvagens, além de outras síndromes. Realizou também o isolamento e caracterização do último poliovírus selvagem da Região das Américas, no Peru, em 1991. Enquanto referência nacional e internacional, o laboratório presta consultoria à rede de laboratórios Nacionais do Ministério da Saúde e participa ativamente na formação de recursos humanos para estes laboratórios, por meio de treinamentos e cursos.

Os pesquisadores dedicam-se ainda ao sequenciamento completo de nucleotídeos dos últimos poliovírus selvagens isolados no Brasil e na Região das Américas e do perfil genômico das amostras vacinais Sabin em circulação no Brasil. Esses conhecimentos serão importantes no monitoramento da circulação viral no caso de uma reemergência dos poliovírus selvagens no Brasil e de possíveis mutações e recombinações das cepas vacinais com genomas de outros poliovírus e enterovírus.

A poliomielite

A poliomielite é uma doença infecto-contagiosa aguda. Não existe cura e o vírus causador da doença se multiplica no intestino. A transmissão ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados com fezes (contato fecal-oral) e, por isso, crianças até os quatro anos, que ainda não adquiriram hábitos de higiene, correm mais risco de contrair o poliovírus. Apenas 1% dos infectados desenvolve a forma paralítica, decorrente da migração do vírus para o sistema nervoso central. As sequelas podem ser permanentes e, quando há comprometimento bulbar o paciente pode morrer de insuficiência respiratória.

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