Erros de preparo e administração de medicamentos são comuns no ambiente hospitalar. Este risco é ainda maior quando se trata de pacientes pediátricos. Uma análise das ocorrências de erros desta natureza, realizados em uma enfermaria pediátrica, apontou que quase 67% dos erros se referem ao preparo e mais de 87% são erros relacionados à administração de medicamentos. Em sua pesquisa de mestrado realizada na ENSP, Suiane Baptista apontou que erro de medicação é um grave problema de saúde pública e ocorre em todas as etapas do sistema de medicação, trazendo prejuízos tanto para o paciente e seus familiares quanto para os profissionais e sistemas de saúde. Ao concluir a pesquisa, ela defendeu que a maioria dos erros estão relacionados com os processos de trabalho e não com o profissional isoladamente.
Suiane é farmacêutica hospitalar do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e, neste trabalho, teve a orientação do pesquisador do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde Pública da ENSP Walter Mendes. Em sua defesa, a aluna apontou que erros de preparo e administração de medicamentos são comuns no ambiente hospitalar em pediatria, servindo como um indicador de qualidade do serviço prestado ao paciente. Segundo ela, a detecção desses erros em potencial deve ser uma rotina, pois aponta as fragilidades do sistema permitindo melhorá-lo.
O tema do trabalho foi escolhido pela aluna por ser sua área de atuação. “A pediatria é mais vulnerável ao erro devido às suas características fisiológicas peculiares e à indisponibilidade de formas farmacêuticas adequadas no mercado para este público”. Suiane contou que a experiência de estar na enfermaria e conviver com os pacientes e seus familiares, com a enfermagem e diversos profissionais mostrou a necessidade do farmacêutico estar mais próximo à realidade, conhecendo suas dificuldades e entendendo a melhor forma de contribuir para a qualidade do cuidado “
A participação do farmacêutico nos rounds, sua inserção no planejamento e execução de educação permanente em conjunto com a enfermagem e seu auxílio na elaboração de protocolos para ao preparo e administração podem ser os primeiros passos para a aproximação do profissional com a realidade clínica do paciente”, descreveu ela.
Suiane apontou ainda algumas políticas organizacionais que devem ser desenvolvidas, pois o estabelecimento destas são extremamente relevantes para a resolução de problemas que podem afetar a segurança do paciente e são apoiadas em recomendações de diversas instituições importantes na área.
Entre elas, Suiane citou a elaboração de protocolos e o monitoramento da utilização de antimicrobianos e a elaboração de recomendações para o preparo e administração de medicamentos; a sensibilização contínua dos profissionais de saúde quanto a notificação de erros de medicação e eventos adversos; a manutenção de profissionais em número suficiente para manter a qualidade dos serviços, evitando a sobrecarga de trabalho; ambientes de preparo mais adequados, minimizando o número de interrupções; o envolvimento dos acompanhantes na terapia medicamentosa; disponibilização de fonte de informação sobre medicamentos para os profissionais; informatização dos rótulos e da prescrição médica com suporte clínico; a presença de um farmacêutico clínico na enfermaria; dentro outras.
Segundo a aluna, este é um dos primeiros estudos a investigar erros de preparo e administração de medicamentos em pacientes pediátricos no Brasil utilizando a técnica da observação sistemática. A pesquisa foi realizada em uma enfermaria pediátrica de um hospital público do Rio de Janeiro. Foram observados os profissionais de enfermagem durante os processos de preparo e administração de medicamentos por 23 dias, em todas as equipes, todos os turnos (noite e dia) e dias da semana, incluindo fins de semana. As observações foram registradas com o auxílio de um roteiro semiestruturado por um único observador.
Suiane esclareceu que foram comparados os dados coletados com a prescrição e considerou-se inadequada a discrepância entre eles. “Foi analisado como erro o que, nesse processo, tivesse sustentação na literatura. Por questões éticas, toda vez que se verificou que um erro poderia causar danos ao paciente, o profissional de enfermagem foi comunicado”, disse ela.