O cheiro nos remete a muitas coisas. Quem nunca sentiu um perfume e imediatamente o relacionou a alguém ou a algum determinado objeto? Mas muitas vezes não usamos esse sentido para perceber o mundo a nossa volta. Foi pensando nisso que a jornalista Luisa Massarani, em conjunto com um grupo multidisciplinar, uniu as sensações que as essências despertam com a ciência e desenvolveu um kit de aromas que procura, de forma lúdica, estimular o olfato das crianças e, a partir daí, despertar-lhes o interesse pela diversidade e preservação da flora brasileira. O projeto Divulgação Científica da Flora Brasileira foi contemplado pela FAPERJ por meio do edital Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia no Estado do Rio de Janeiro.
Formado por uma caixa colorida com potes que contêm uma base de glicerina com essência extraída de plantas ou frutas, o kit Cheiro de quê? também utiliza cartilhas e um livro infantil com informações relacionadas ao tema e revisadas por pesquisadores das áreas de biologia, física, química e design. De forma atraente e acessível, o kit se destina a alunos de 8 a 12 anos da rede pública do Rio de Janeiro e aos visitantes do Museu da Vida/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Acreditamos que será uma ferramenta útil e eficiente de difusão e popularização da ciência, fazendo com que as crianças percebam, pelo olfato, o mundo ao seu redor e a importância dos cheiros, diz Luisa Massarani, que trabalha no Museu da Vida, museu de ciências interativo ligado à Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.
A ideia surgiu a partir de um jogo francês, chamado Le loto des odeurs, que reúne 26 pequenos recipientes de plástico, com diferentes odores de frutas, flores e elementos domésticos variados, como sabão, biscoito e mel. Na versão brasileira, a quantidade de potes diminuiu para cinco e acrescentou-se um livro que conta a história de um cheiro, que tomou conta de uma cidade e como um grupo de crianças tenta descobrir a origem da essência. Segundo a pesquisadora, todo o conjunto livro, cartilhas e os potes vai ajudar os estudantes a distinguir os diferentes odores de ervas, flores e frutas, que fazem parte da flora brasileira.
Durante a leitura, o aluno é estimulado a usar a carta de atividades, que fala sobre plantas e frutas brasileiras, e a descobrir curiosidades sobre elas. Vai aprender, por exemplo, que a banana, que acreditamos ser nativa do Brasil, é, na verdade, asiática, e que a jaca tem origem indiana. Ele também pode ser orientado a pegar um dos potes para tentar adivinhar qual o cheiro que contém. É um tipo de conhecimento que os alunos não têm na escola. Aprendendo sobre esses assuntos ao longo do livro, eles se sentem parte dessas descobertas, diz.
O conteúdo do kit ainda propõe ao aluno experiências em casa: uma delas é procurar distinguir odores do cotidiano, como queijo, chulé e café. Uma das propostas é beber um suco, tampando o nariz para não sentir o cheiro, e depois fazer o mesmo, procurando sentir o odor. Assim, eles vão relacionar gosto com cheiro e chegar à conclusão de que quando não sentimos o odor daquilo que ingerimos, consequentemente sentimos menos o sabor, explica ela.
O projeto foi realizado pelo Museu da Vida e pelo Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com apoio da empresa IFF Essências e Fragrâncias, além da FAPERJ. O kit está disponível para escolas da rede pública e museus de ciência do Rio de Janeiro. Para recebê-los, a escola ou o museu precisa mandar uma solicitação para o e-mail: nestudos@fiocruz.br.