A utilização da escala de CHA2DS2-VAS para identificar o risco de eventos cardioembólicos em pacientes com Fibrilação Atrial (formação de coágulos sanguíneos em cavidades cardíacas) proporciona melhores resultados na condução do tratamento e controle desses eventos, indicando os agravos associados à doença. É o que mostra um estudo descritivo realizado no Ambulatório de Anticoagulação do Centro de Saúde Escola (CSE) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
A Fibrilação Atrial é caracterizada por atividade elétrica cardíaca anormal associada a distúrbio de ritmo com tendência à formação de trombos (coagulação do sangue). Pessoas com a doença têm risco cinco vezes maior em desenvolver acidente vascular cerebral (AVC), além de infarto agudo do miocárdio e trombose venosa profunda.
“É um problema com o ritmo cardíaco no qual ocorre desorganização da atividade elétrica dos átrios (duas pequenas câmaras superiores do coração), que deixam de apresentar contração ordenada e passam a tremular (fibrilação). Em consequência disso, perdem eficiência e não se esvaziam completamente acumulando-se em algumas regiões dos átrios, predispondo a formação do coágulo.” explica Ivana Passeri, enfermeira do CSE.
Segundo a enfermeira, a anticoagulação oral é a intervenção capaz de diminuir a mortalidade relacionada à Fibrilação Atrial, mas para sua eficácia e segurança do paciente, é imprescindível o monitoramento periódico dos usuários. “O anticoagulante mais utilizado ainda é a Varfarina, pois inibe a formação de coágulos atriais e vasculares responsáveis pelos processos tromboembólicos. É importante que seja administrado com acompanhamento e controle laboratorial, pois doses insuficientes comprometem a eficácia terapêutica e doses em excesso predispõem a hemorragia.”
Estratificação de risco
Para obter o equilíbrio entre os riscos de hemorragia e de tromboembolismo, são empregados mecanismos para estratificar o risco de coagulação nos pacientes, como as escalas CHADS2 (Insuficiência Cardíaca, Hipertensão, Idade maior ou igual a 75 anos, Diabetes Melittus AIT ou AVC prévio) e CHA2DS2-VAS (Insuficiência Cardíaca, Hipertensão, Idade maior ou igual a 75 anos, Diabetes Melittus AIT ou AVC prévio, doença vascular, idade de 65 a 74 anos, sexo se feminino). A diferença entra as duas está na quantidade de itens analisados.
“A escala propõe a estratificação de risco, que é pontuada de acordo com o agravo que o paciente tem. Por exemplo, se o paciente tem Fibrilação Atrial, mas também é portador de diabetes (1), tem hipertensão arterial (1), tem 80 anos (2), teve AVC prévio (2), isso resulta em um escore (pontuação) de risco igual a seis, portanto, é considerado alto risco”, explica Ivana. É a partir dessa avaliação de risco que se determina ou não ou uso de anticoagulantes no paciente com Fibrilação Atrial.
Em estudo descritivo com 48 pacientes com Fibrilação Atrial que frequentam o Ambulatório de Anticoagulação, a classificação de CHA2DS2-VASc apresentou melhores valores preditivos para indicação do tratamento e controle dos eventos cardioembólicos.
“Pacientes antes classificados como de baixo a intermediário risco cardioembólico pela escala CHADS, foram incluídos no risco intermediário a alto para desenvolver eventos cardioembólicos pela escala CHA2DS2-VASc. Isso possibilita a adequada terapia com anticoagulantes, tornando imprescindível o monitoramento mais intensivo do paciente, fornecendo as orientações sobre alimentação, uso correto da medicação, interações medicamentosas, para prevenção de hemorragias e tromboembolismo, considerando as comorbidades de cada paciente”, afirma Ivana.