O estudo foi realizado pela nutricionista Camila Michiko Yamaguchi.“O objetivo foi avaliar a evolução a longo prazo de pacientes com diabetes e sem diabetes obesos mórbidos submetidos à cirurgia de redução de estômago para obesidade”, afirma Camila. “Foram avaliados 100 portadores de obesidade mórbida em São Paulo, divididos inicialmente em dois grupos: pacientes com diabetes prévio, antes da cirurgia, e grupo de pacientes sem diabetes prévio”.
Após essa divisão, foi realizada uma subdivisão dos dois grupos de acordo com o desfecho da doença após a cirurgia de redução de estômago. “O grupo com diabetes prévio subdividiu-se em grupo refratário, com pacientes que permaneceram com diabetes após a cirurgia, e grupo responsivo, reunindo pessoas que deixaram de ser diabéticos”, conta a nutricionista. “ O grupo sem diabetes prévio subdividiu-se em grupo estável, com pacientes que permaneceram sem a doença, e grupo não estável, de pessoas que não tinham diabetes e após a cirurgia desenvolveram um pré-diabetes”.
A maioria dos pacientes com diabetes submetidos a cirurgia de redução de estomago para obesidade, tiveram sucesso na cirurgia, atingindo a remissão da doença. “Este grupo de pacientes que atingiram a normalização da glicemia, tinham características pré-operatórias como menor tempo de diagnostico de DM2”, afirma Camila. “Por outro lado, possuir um maior tempo de diagnóstico pré-operatório de DM2, foi associado a um pequeno grupo de pacientes que não atingiram a remissão da doença, denominado grupo refratário”.
Tempo de diagnóstico
De acordo com a nutricionista, os resultados estiveram diretamente ligados ao tempo de diagnóstico do DM2. “Pode-se sugerir que a intervenção cirúrgica quando realizada em um período precoce da doença no organismo, onde ainda existe maior preservação de células beta no pâncreas, associadas a não evolução do diabetes, promovem maiores chances de reversão”, observa. “Por outro lado, quando a doença está em seu estágio mais avançado, ou seja, ser portador de DM2 por um período maior leva a uma progressão e piora da doença, por uma maior destruição de células beta”.
A pesquisa também revelou um pequeno número de pacientes sem diabetes antes da cirurgia que apresentaram alteração nos valores de açúcar no sangue após o procedimento a longo prazo, sugerindo que o efeito protetor para o diabetes não se configurou neste grupo.
“Por este grupo não ter sido portador de diabetes antes da cirurgia, sugere-se que uma herança genética favorável e uma conservada massa de células beta fizeram com que a disfunção levasse cerca de sete anos para se manifestar“, ressalta Camila. “Essa diminuição nos benefícios da cirurgia pode estar relacionada com alterações que deterioram as condições inflamatórias, hormonais e imunológicas dos pacientes ou, talvez, a uma maior atenuação dos benefícios a longo prazo”.
De acordo com a nutricionista, “recomenda-se que tanto os pacientes com a glicemia alterada quanto os com glicemia normal submetidos a uma cirurgia de redução de estômago para obesidade façam um seguimento a longo prazo do nível glicêmico no sangue”.
Camila aponta que durante o estudo, os pacientes não foram submetidos a nenhum tipo de tratamento. “Esta pesquisa foi realizada com pacientes do Hospital das Clínicas da FMUSP (HCFMUSP), com caráter retrospectivo e prospectivo dos dados coletados do prontuário hospitalar referentes à cirurgia realizada há uma média de oito anos atrás”, aponta. A pesquisa, orientada pelo professor Joel Faintuch, da FMUSP, é descrita em tese de doutorado apresentada no último dia 9 de dezembro.