Uma nova tecnologia de imagem em tomografias pode revolucionar o processo de acompanhamento médico de hipertensão arterial pulmonar (HAP). Em estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o médico André Hovnanian mostrou que a utilização da chamada tomografia de impedância elétrica (TIE) permite detectar a gravidade e o prognóstico da doença de forma não-invasiva.
A tese de doutorado de Hovnanian buscou comparar os resultados de dois processos de diagnóstico de hipertensão arterial pulmonar, o cateterismo e a tomografia de impedância elétrica. Os resultados, ainda não publicados, são inéditos na literatura médica e apontam uma forte correlação entre as medidas obtidas pela TIE e os parâmetros hemodinâmicos coletados nos exames de cateterismo.
A grande vantagem da tomografia em questão é sua característica não-invasiva. No cateterismo, exame que hoje fornece os dados mais completos e precisos da doença, um tubo (cateter) é inserido no lado direito do coração, através de uma veia no pescoço, até atingir a circulação pulmonar. “O cateterismo, apesar de muito eficaz, possui alguns efeitos negativos: por ser invasivo, está associado a riscos, sendo motivo de grande apreensão por parte dos pacientes”.
A tomografia de impedância elétrica vem sendo desenvolvida há cerca de dez anos poe intermédio de uma parceria entre a disciplina de pneumologia da FMUSP, a Escola Politécnica (EP) e o Instituto de Matemática e Estatística (IME), ambos da USP, sob coordenação do professor Marcelo Amato. O aparelho, que realiza a medição de um elemento físico chamado impedância, consiste em uma faixa de eletrodos colocada ao redor do peito do paciente que fica acoplada à máquina. “O dispositivo permite, sem usar radiação e sem invasões, mostrar a situação do pulmão em tempo real”.
Na pesquisa, 43 pacientes adultos do Ambulatório de Hipertensão Pulmonar do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, tiveram seus exames de TIE e cateterismo comparados simultaneamente. Desse número, 35 já apresentavam diagnóstico da doença e tiveram piora no quadro, e 8 tinham suspeitas de hipertensão arterial pulmonar. “Os pacientes possuÍam o mesmo perfil demográfico e hemodinâmico daqueles encontrados nos registros internacionais, o que trouxe mais consistência e capacidade de generalização ao estudo”.
Próximas etapas
O pesquisador ressalta que a correlação entre o valor de impedância elétrica medido pelo tomógrafo e o desempenho do coração medido pelo cateterismo é muito forte, o que possibilita “uma análise melhorada da gravidade e sobrevida dos pacientes”. Para ele, esses resultados podem trazer um avanço na estruturação da abordagem dessa doença, já que “o acompanhamento desses pacientes de forma não-invasiva pode se tornar uma realidade”.
Segundo Hovnanian, o próximo passo é melhorar a resolução espacial da imagem e analisar sua capacidade diagnóstica em HAP. “Se conseguirmos tornar a imagem do tomógrafo mais nítida, teremos uma possível alternativa ao cateterismo”. O médico aponta ainda a diferença de custos entre os dois processos. A tomografia de impedância elétrica (TIE) possui um custo muito menor aos hospitais e clínicas do que as aplicações de cateterismo. “Com estudos mais avançados e após a entrada da tecnologia no mercado, em 5 a 10 anos poderemos ter esse método consolidado na prática médica”.