Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), foi eleita para a direção da Latin American Studies Association (Lasa). Trata-se da primeira brasileira, e também a primeira latino-americana não-residente nos Estados Unidos, a assumir o cargo.
Seguindo o protocolo da entidade, entre 1º de maio de 2009 e 31 de outubro de 2010, Maria Hermínia servirá a associação como vice-presidente. Em 1º de novembro de 2010 ela assumirá a presidência com mandato de 18 meses.
A Lasa, associação científica multidisciplinar com sede na cidade de Pittsburgh (Estados Unidos), reúne mais de 5 mil especialistas no mundo, provenientes das disciplinas e profissões no âmbito das ciências sociais e humanas, que se dedicam ao estudo da América Latina.
A Lasa é a mais importante associação científica formada por especialistas de diversas áreas que estudam o continente, criada quando essas pesquisas começaram a se expandir nos Estados Unidos, no início da década de 1960, disse a professora do Departamento de Ciência Política da FFLCH, à Agência FAPESP.
Para ela, essa indicação representa, mais do que o reconhecimento a uma pessoa, o peso das ciências humanas brasileiras na América Latina. A comunidade acadêmica do país é a maior da região e também lidera em muitas subáreas dentro das ciências humanas, afirmou.
Trata-se de um reconhecimento ao sistema de pesquisa do Brasil como um todo, que felizmente é bem institucionalizado. Especialmente nos últimos 25 anos, o país tem acompanhado o crescimento de toda a comunidade acadêmica nacional na área das humanidades, disse.
Maria Hermínia cita os programas de pós-graduação das universidades de todo o país, as associações científicas ligadas às humanidades e as agências de fomento estaduais como os grandes responsáveis por essa institucionalização da produção acadêmica na área, que, segundo ela, é muito significativa e incomparavelmente maior do que da maioria dos países latino-americanos.
O México tem uma produção científica comparável à brasileira, apesar de ter uma comunidade de pesquisadores menor. De modo geral, nos outros países do continente a produção é menos institucionalizada, o que faz com que o conhecimento gerado acabe ficando mais separado das aplicações práticas da vida pública. A produção sobre a América Latina nos Estados Unidos, por outro lado, é muito grande, afirma.
Associação plural
A escolha de Maria Hermínia foi feita pelos associados em votação eletrônica secreta. Não há candidatura, explicou ela, uma vez que a comissão eleitoral, cujos nomes são indicados pela diretoria da entidade, seleciona apenas dois candidatos a serem submetidos à apreciação dos associados pela internet.
A Lasa tem como missão promover o debate intelectual, a pesquisa e o ensino sobre a América Latina e Caribe e seus povos que residem em todas as Américas, além de promover os interesses de seu quadro de sócios e incentivar a participação desses por meio de uma rede de relacionamentos e debate público.
Segundo Maria Hermínia, trata-se de uma associação plural e de enorme diversidade de conhecimentos, tendo duas faces principais: uma mais acadêmica e outra voltada para o debate público. Pretendo fortalecer ainda mais as dimensões acadêmicas da Lasa, criando novos espaços para a discussão, na universidade, de temas e questões multidisciplinares, afirmou.
Isso inclui os desafios metodológicos e de pesquisa para o tratamento dos processos e fenômenos da América Latina com base em uma ótica multidisciplinar, assuntos que, no meu ponto de vista, ainda são pouco tematizados no âmbito acadêmico, disse.
É preciso discutir, com os especialistas dos diversos países que integram a associação, as fronteiras interdisciplinares que aproximam as ciências políticas do direito e da economia, por exemplo. Pretendo continuar cultivando também o diálogo, que tem sido muito nobre, entre os especialistas que estão na América Latina e em outros continentes como o europeu, apontou.
Maria Hermínia é diretora em exercício do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, onde leciona no curso de graduação de relações internacionais, e também professora do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Ciência Política da FFLCH.
Graduada em ciências sociais (1969), concluiu doutorado em ciência política (1979) pela USP e pós-doutoramento na Universidade da Califórnia em Berkeley (1984).
Suas pesquisas enfocam principalmente as políticas públicas e as instituições políticas brasileiras, especialmente estruturas federais e relações intergovernamentais. É autora do livro Crise e Organização dos Interesses Econômicos pela Editora da USP (Edusp) e possui cerca de cem artigos publicados em livros e revistas acadêmicas nacionais e internacionais. De 2003 a 2007 coordenou o Projeto Temático Democracia, política e governo local, apoiado pela FAPESP.
Foi pesquisadora visitante no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Londres (1992), na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos (1996), no Instituto Universitario de Investigación Ortega y Gasset, na Espanha (1999, 2000 e 2002), e na Universidade de Montreal, no Canadá (2006). Integrou ainda o Comitê Executivo da Lasa de 2001 a 2004 e foi presidente da Associação Brasileira de Ciência Política entre 2006 e 2008.
Atualmente, é membro do conselho consultivo do Woodrow Wilson International Center for Scholars, instituto voltado ao debate de políticas públicas para a inovação sediado em Washington, nos Estados Unidos, e membro da Comissão Executiva da Associação Internacional de Ciência Política (IPSA, na sigla em inglês), além de ter recebido, no Brasil, o título da Ordem Nacional do Mérito Científico em 2006.
Mais informações sobre a Lasa: http://lasa.international.pitt.edu/eng/index.asp