Estudo investiga processo de afastamento e retorno de professores do sistema público

Dados recentes do Atlas Municipal de Gestão de Pessoas, publicado pela Prefeitura de São Paulo, mostram que os professores estão entre os grupos profissionais com maiores índices de licença médica e também de readaptação funcional – processo em que o servidor passa a ocupar funções diferentes após o retorno ao trabalho, em consequência de comprometimentos de saúde identificados em perícia médica.

Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP investigou os motivos que levam ao afastamento de professores e de que forma acontece a readaptação na volta ao trabalho. O objetivo do estudo desenvolvido pela terapeuta ocupacional Amanda Aparecida Silva Macaia foi compreender esse processo e propor estratégias para o cuidado da saúde e permanência dos servidores.

Participaram da pesquisa 20 professores ativos (que permaneceram em suas funções) e readaptados (ocupando, por exemplo, cargos na secretaria, fora da sala de aula), com histórico de licenças médicas devido a transtornos mentais e comportamentais (TMC), como episódios depressivos, transtorno obsessivo compulsivo e outros transtornos ansiosos. A duração dos afastamentos foi de 15 dias até cinco anos, mas apresentavam uma característica comum: “todos eles registravam mais de um afastamento”, afirma a pesquisadora.

Na tese de doutorado, defendida em fevereiro deste ano, Macaia observou que o sistema público de saúde não se articula com o sistema público de educação, uma integração necessária para orientar o professor que retoma suas atividades. Sem preparação para o retorno, os professores acabam envoltos nas mesmas condições que geraram seu afastamento.

Quase a totalidade dos entrevistados apontou o trabalho como motivador para o adoecimento e afastamento (apenas um apontou um problema pessoal). Entre os fatores citados, estão violência sofrida na escola, longas jornadas de trabalho, conflitos com a gestão e impedimentos diversos – como, por exemplo, sintomas de TMC que impossibilitavam o trabalho em sala de aula.

Readaptação

A partir das entrevistas, notou-se a percepção dos professores de que políticas públicas de estado, somadas ao apoio da equipe gestora da escola, poderiam evitar novos afastamentos “Não há orientação para a readaptação, os professores voltam sem ter uma ideia de como serão suas atividades”, diz Amanda Macaia. Apenas uma professora relatou a ocorrência de ajuste em suas demandas e exigências de trabalho junto à direção da escola.

 Um dos problemas enfrentados pelos professores que retornam ao trabalho é o preconceito, tanto em relação à condição que os levou ao afastamento – os transtornos -, como pela própria condição de readaptação. O estudo afirma que, em geral, há um consenso sobre a profissão de professor de que ela facilita o adoecimento. No entanto, em relação ao afastamento, há divergências: muitos creem que o professor deve suportar as demandas do trabalho, como uma característica própria da profissão.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Para a pesquisadora, é importante que a discussão sobre essa orientação seja ampliada, envolvendo os diversos atores que influenciam o processo de afastamento e retorno: profissionais da equipe gestora da escola, sindicatos, Departamento de Saúde do Servidor, Secretaria de Educação, SUS, professores, pais e alunos.

O estudo Excluídos no trabalho? Análise sobre o processo de afastamento por transtornos mentais e comportamentais e o retorno ao trabalho de professores da rede pública municipal de São Paulo foi desenvolvido sob orientação da professora Frida Marina Fischer, do Departamento de Saúde Ambiental da FSP, e está disponível nesta página.

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