Queda da detecção da hanseníase pode não significar diminuição da doença em São Paulo

Apesar do número de casos notificados ter diminuído nos últimos anos no estado de São Paulo, não se pode afirmar que a doença esteja sob controle. O alerta é do professor Antonio Luiz Rodrigues-Júnior, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. A hanseníase é transmitida pelo ar por um bacilo, o Mycobacterium leprae. Rodrigues desenvolveu um artigo, Estudo espacial e temporal da hanseníase no estado de São Paulo, 2004-2006; em que analisa os dados do Ministério da Saúde.

Em 1991, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a eliminação ou redução da incidência de hanseníase para menos de 1 caso para cada grupo de 10.000 habitantes. Em 2000, ainda não tendo atingido a meta da OMS, o Ministério da Saúde lançou um projeto para dar "um tratamento de choque à doença", explica o professor, nesse programa previa-se alcançar as metas da OMS até o ano de 2005. Em 2003, o Brasil era o segundo país com o maior número de casos da doença no mundo, 4,52 para 10.000 residentes.

 

O programa "Incentivo para a Ampliação da Detecção da Prevalência Oculta da Hanseníase" liberava recursos por caso detectado e notificado como forma de estimular a produtividade dos profissionais de saúde. Os dados analisados pelo estudo mostraram que, na maioria das regiões de saúde do Estado de São Paulo, houve um aumento do número de casos notificados, que foi resultante do incentivo; no entanto, após o encerramento do programa de incentivo, no final de 2005, houve quedas acentuadas do número de casos notificados da doença, já em janeiro de 2006, conforme apresenta o artigo.

Rodrigues-Júnior avalia que a estratégia do Ministério da Saúde, ao incentivar a produtividade dos serviços de saúde, foi muito positiva, por promover a identificação ativa de indivíduos portadores da doença; coincidentemente, o encerramento do programa de incentivo e a diminuição da notificação de casos da doença aconteceram na mesma época. Por isso, não se pode afirmar que a incidência da doença no Estado está diminuindo, pois a “falta de incentivo à produtividade dos serviços de saúde pode ter influenciado na qualidade das informações de notificação de hanseníase, diz o pesquisador.

Escolaridade
Além de medir a detecção da hanseníase, o estudo propôs o cruzamento das notificações com outros indicadores, como escolaridade, longevidade e mortalidade infantil. Os números usados são do Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS), um indicador que reflete o desenvolvimento humano nos municípios do estado de São Paulo, incluindo, além do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), as informações administrativas municipais atualizadas nos anos intermediários aos censos demográficos.

Foi constatado que as regiões de saúde com os mais altos níveis de escolaridade também apresentaram maiores números de casos detectados da doença; o estudo não associa o nível de escolaridade como um fator de risco da doença, e sim que, “provavelmente, as populações com maiores níveis de escolaridade têm maior capacidade de acesso aos serviços de detecção da doença”. Rodrigues-Júnior afirma que “a prevenção e o tratamento da hanseníase são relativamente simples, mas a pobreza e a exclusão social impedem a implantação de políticas públicas eficazes”, conclui.

Imagem cedida pelo pesquisador

Mais informações: email aljr@fmrp.usp.br

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