Pesquisa com usuários do Distrito de Saúde Oeste de Ribeirão Preto (interior de São Paulo) revela que o acesso às Unidades de Atenção Básica de Saúde (UBS) é um dos principais pontos de estrangulamento do sistema. O estudo da professora Maria José Bistafa Pereira, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, também mostra que as Estratégias de Saúde da Família (ESF) na região alcançaram uma organização e um desempenho muito mais satisfatório no processo de atuação básica em saúde para a maioria dos usuários.
Foram entrevistadas 770 pessoas, no período de 16 de novembro a 20 de dezembro de 2007, com idade mínima de 18 anos e máxima de 85 anos, sendo a idade média na Estratégia da Saúde da Família de 46,9 anos e nas Unidades Básicas de Saúde de 41,4 anos. As mulheres foram maioria tanto nas UBS, 84,5%, como na ESF 75,3%. Do total de pacientes atendidos nos serviços de atenção básica, UBS e ESF, 47,1% dispunham de trabalho e 12,9% dos pacientes possuíam convênio de saúde particular. O levantamento faz parte da tese de livre-docência de Maria José, apresentada em setembro na EERP.
Segundo a pesquisadora, os atributos para a avaliação foram o acesso, a porta de entrada, o vínculo, elenco de serviços, enfoque familiar, coordenação ou integração de serviços, orientação para a comunidade e formação profissional. A professora aponta que as Unidades da Estratégia da Saúde da Família têm um processo de trabalho que facilita o desenvolvimento do vínculo. Têm, ainda, compromisso com a construção desse novo modelo de atenção, com a estruturação das práticas de saúde voltadas à família como um todo, enfatizando principalmente o seu espaço social como núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde, além da democratização do conhecimento do processo saúde-doença.
Na ESF, os profissionais trabalham com uma área delimitada de aproximadamente 3,5 mil pessoas, em torno de 800 famílias, lembra Maria José. No tipo de atendimento que realizam, é prevista a visita ao domicílio para todos da equipe, sendo que para os agentes comunitários ela é planejada para todas as famílias, pelo menos uma vez ao mês. Há ainda um horário para reunião de discussão de família entre os integrantes da equipe, onde se tem a possibilidade de planejar as intervenções para atender as necessidades de forma mais diversificada. É também um espaço onde as ações preventivas, de promoção a saúde, tratamento e reabilitação, são discutidas e implementadas de forma indissociáveis.
Atenção
As Unidades da ESF também realizam diversos grupos de trabalho junto com a população, com a participação de vários setores. Os profissionais permanecem no serviço durante toda a jornada de trabalho, conhecem as famílias, sabem o nome dos usuários, e estes também conhecem e sabem o nome dos diferentes profissionais da equipe, avalia a professora. A ESF é orientada por atributos que potencializam as mudanças na prática de saúde mas com certeza necessitaram de intervenções na formação dos profissionais e da promoção de educação permanente em saúde.
De acordo com Maria José, a adoção de uma gestão democrática e participativa, incluindo os usuários, é fundamental para se caminhar rumo a mudança. São necessários investimentos em trabalho de equipe junto aos trabalhadores e a incorporação de recursos que possibilitem viabilizar os atributos da atenção primária precisam estar na agenda política do gestor municipal, acrescenta.
Outra questão avaliada pela pesquisa foi se a ampliação da rede básica de saúde ao longo desses anos tem possibilitado ações de saúde na perspectiva da integralidade da atenção. Segundo Maria José, o que se pôde observar é que a ampliação da rede se constitui num importante fator para se caminhar em direção a integralidade da atenção e ela está ocorrendo de forma significativa. Por outro lado ficou evidente que a integralidade é o princípio do Sistema Único de Saúde (SUS) que menos avançou desde sua criação e ainda é considerado um grande desafio, alerta.
Para a pesquisadora, quando a prática de atenção à saúde não foca a família e nem a comunidade indica a continuidade de um atendimento individual, que não considera, em sua maioria, os aspectos sociais e fatores de risco familiares que podem estar presentes na situação de sofrimento dos usuários. As situações de saúde e doença precisam ser compartilhadas entre os trabalhadores de saúde, da educação, a população e os gestores, afastando da prática fragmentada e descontextualizada, ressalta.
A porta de entrada citada como um dos atributos pesquisados pressupõe que o sistema de saúde esteja organizado de forma integrada e que o acesso aos diferentes níveis de atenção ocorra, majoritariamente, pelo serviço considerado porta de entrada. Os resultados assinalam que os usuários, ao serem atendidos nas Unidades da rede básica, o são em ações preventivas e curativas, conseguindo também o atendimento em serviços de outros níveis de atenção, no caso, os atendimentos em serviços especializados, observa a professora. No entanto, ainda existem barreiras para conseguir ser atendido nas Unidades da rede básica.
(Fonte: Rosemeire Soares Talamone, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto)
Mais informações: (16) 3602-3407, com Maria José Bistafa Pereira