Cidade de São Paulo desenvolve sistema de gestão da fauna silvestre

Nos últimos 15 anos, a cidade de São Paulo desenvolveu um modelo bem-sucedido de gestão da fauna silvestre que vive na cidade. A trajetória e as ações do serviço são o tema de pesquisa da médica veterinária Angela Maria Branco, realizada na Faculdade de Saúde Pública da USP. Além de tratar e reintegrar animais vitimados à natureza, o trabalho desenvolvido na capital paulista auxilia no planejamento urbano, conservação ambiental e em estudos e políticas de saúde pública, especialmente na área de zoonoses (doenças transmitidas entre animais e seres humanos).

De acordo com a pesquisadora, é responsabilidade do Estado fazer a gestão da fauna, entendida como patrimônio público. “Isso inclui ações em todas as esferas de governo, como combater a retirada e comercialização de animais silvestres, considerados crimes ambientais”, explica. “A pesquisa concentrou-se nos animais silvestres que tem seu hábitat na cidade e são vitimados pela pressão humana, perdendo espaço com queimadas, desmatamento, ocupação de áreas, obras de infra-estrutura e outras ações decorrentes da expansão urbana”.

Para atender esses animais, a Prefeitura de São Paulo mantém a Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre, criada por lei em 1993. “Sua missão é fazer o atendimento do animal e recolocá-lo na natureza”, conta Angela. Um levantamento da fauna na cidade comprovou a existência de 429 espécies de animais vertebrados, distribuídos entre 48 áreas, entre remanescentes de mata nativa e parques municipais e estaduais.

“Nas áreas de Mata Atlântica, especialmente na região Sul, é encontrada a onça-parda, que pelo fato de estar no topo da cadeia alimentar, indica que a fauna dessa área ainda é muito rica”, destaca. Até o final de 2007 foram atendidos 33.118 animais na Divisão. Os principais atendimentos são casos de atropelamentos, agressões de animais domésticos, filhotes órfãos e invasores de domicílio (encaminhados pela população, polícia e Corpo de Bombeiros). Os animais mais atendidos são o macaco bugio (que vive na cidade e está ameaçado de extinção), gambá, capivara e aves como corujas, gaviões e pequenos pássaros.

Pesquisa
O tratamento de saúde acontece em um hospital veterinário no Parque Ibirapuera (Zona Sul de São Paulo). Os animais recuperados são enviados para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, no Parque Anhanguera (Zona Oeste). “Nesse local, eles são reabilitados para serem recolocados na natureza”, explica a pesquisadora. “Quando isso não é possível, os animais são encaminhadas para zoológicos ou para criadouros autorizados.” Conforme a disponibilidade do serviço, a Divisão também apóia os órgãos de fiscalização ambiental e atende animais apreendidos.

Durante a passagem dos animais pelo serviço, é feita a coleta de amostras de sangue, urina, fezes e parasitas, que são usadas em pesquisas sobre doenças transmitidas pelos animais, como raiva, leptospirose, toxoplasmose e hantavirose, entre outras. “O material biológico serve para estudos e trabalhos acadêmicos sobre zoonoses, doenças naturalmente transmitidas entre animais e seres humanos, e vice-versa, o que auxilia nas ações de saúde pública”, diz Angela. Atualmente, o serviço conta com 21 estagiários remunerados das áreas de Biologia e Medicina Veterinária, que são capacitados para o manejo de animais silvestres. Ao todo, 158 estagiários já passaram pela Divisão.

O serviço também realiza levantamentos sobre a fauna silvestre no município, que auxiliam na gestão e planejamento da cidade. “De posse dessas informações, é possível saber qual impacto sobre a fauna local terá um novo empreendimento antes de ser licenciado, e de que forma poderá ser feita a compensação ambiental para a fauna”, observa a pesquisadora. A Divisão também recebe animais da maior parte dos municípios da Grande São Paulo, que não possuem um serviço semelhante.

A pesquisadora recomenda, diante dos resultados positivos do sistema de gestão da fauna silvestre, especialmente nos aspectos relativos ao meio ambiente e saúde pública, que o serviço seja implantado em outras capitais e grandes cidades brasileiras. “Sua instalação deve ser garantida por lei, para que o serviço tenha dotação orçamentária, seja operacional e tenha continuidade”, ressalta. “Também é importante que o serviço esteja próximo a instituições de ensino superior e de pesquisa, pois trata-se um trabalho transdisciplinar.”

Mais informações: (11) 8299-5605, com Ângela Maria Branco. Pesquisa orientada pela professora Helena Ribeiro

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