Substância tóxica utilizada para envenenar o ex-presidente da Ucrânia, Viktor Yushchenko em 2004, é encontrada na poluição atmosférica do Município de São Paulo. Trata-se da dioxina, também conhecida pelo acidente com reator de indústria química que ocorreu em Seveso, na Itália (perto de Milão), em 1976, onde houve liberação dessas substâncias. Após o acidente, verificou-se a morte de muitos animais e mulheres grávidas da região tiveram que abortar, além de ter contaminado o solo nas vizinhanças da indústria. Este acidente é alvo até hoje de estudos epidemiológicos.
A pesquisa sobre dioxinas e furanos no ar de São Paulo foi realizada pelo Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, com apoio da FAPESP, teve como objetivo dar continuidade ao estudo de investigação dos níveis e também das possíveis fontes de emissão de poluentes tóxicos para a atmosfera, principalmente nas regiões que apresentaram as maiores concentrações no estudo anterior realizado em 2000-2001, quando foram coletadas amostras em três localidades diferentes na cidade de São Paulo (Lapa, Região Central e Vila Mariana. Agora em 2006, foram coletadas amostras novamente em dois dos locais anteriores (Lapa e Região Central) e mais a região de Congonhas.
Dioxinas policloradas (PCDDs) e furanos policlorados (PCDFs), comumente conhecidos como dioxinas são compostos extremamente persistentes no meio ambiente, tendo sido detectados em todas as matrizes ambientais – solo sedimentos, água, animais e plantas. Emissões destes compostos para a atmosfera vêm primariamente de processos térmicos. A presença de cloro em processos térmicos tem mostrado ser a maior fonte destes compostos para o ambiente. As principais fontes de emissão são os processos de incineração, incêndios acidentais, queimadas, queima de biomassa e de combustíveis fósseis, fundições e algumas indústrias químicas orgânicas e petroquímicas que empregam cloro no processo. Em relação aos veículos automotores, existem sua real participação nos níveis encontrados na atmosfera está sendo objeto de pesquisa.
Em estudos realizados com animais estes compostos foram precursores de cânceres, deficiência imunológica, disrupção endócrina incluindo diabetes mellitus, alterações dos níveis de testosterona e do hormônio da tiróide, danos neurológicos incluindo alterações cognitivas e comportamentais em recém-nascidos de mães expostas às dioxinas, danos ao fígado, danos à pele e elevação de lipídios no sangue, o que se constitui em fator de risco para doenças cardiovasculares.
Dispersão atmosférica, deposição e subsequente acumulação na cadeia alimentar parece ser a principal rota de exposição da população em geral. Devido às suas características lipofílicas (se une à gordura) e persistência no meio ambiente, estes compostos se acumulam nos tecidos adiposos, sendo os alimentos de origem animal aqueles que apresentam as maiores concentrações.
Estes poluentes estão inseridos na Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs).
A pesquisa constatou que, dos três locais, a Lapa foi o que apresentou o maior valor médio, seguido pela Central e Congonhas, mas o local com concentração mais alta foi a Central. A média geral de dioxinas e furanos neste estudo apresentou-se menor do que a do estudo anterior de 2000/2001. Uma queda de 34,4%, bem como o maior valor de concentração obtido neste estudo foi bem menor do que o maior valor do estudo anterior. Isto deve estar relacionado à queda nas concentrações de partículas inaláveis na cidade de São Paulo nos últimos anos, por ação dos órgãos ambientais e à substituição de frota de veículos antiga por veículos com melhor tecnologia embarcada e conseqüentemente menor emissão. No entanto, os valores encontrados ainda representam situação que merece atenção e continuidade de ações de prevenção e controle da poluição do ar.
O estudo foi coordenado pelo Prof. Dr. Joao Vicente de Assuncao, docente e Chefe do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, foi apresentada em Simpósio realizado em Birmingham, Inglaterra em agosto de 2008 e publicada na revista científica Organohalogen Compounds.
Mais informações com Professor Assunção pelo tel.: 3061-7712 ou pelo e-mail: jianya@usp.br