Implante é alternativa anticoncepcional pós-parto para mulheres pobres

O uso do implante liberador de etonogestrel é uma alternativa simples de método contraceptivo, principalmente para as mulheres de baixa renda, para que comecem logo após o parto o seu controle de natalidade. A conclusão é da médica Milena Bastos Brito, que desenvolve um mestrado sobre o tema no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. O anticoncepcional, apresentado em forma de bastão tem quatro centímetros de comprimento e é colocado na camada subcutânea, sob a pele, e libera o hormônio etonogestrel por três anos.

Segundo dados da literatura médica, cerca de 50% das gestações no mundo não são planejadas, sendo que a maioria nos países em desenvolvimento. “Quando essa gravidez ocorre até seis semanas depois de um parto, são ainda menos planejadas. Essa situação é mais comum do que se imagina, apesar de ainda não haver estatísticas sobre o número de ocorrências de gravidez nessa fase”, afirma a pesquisadora.

Para avaliar a eficácia, os benefícios e os riscos da proposta, Milena estudou 46 gestantes no pré-natal, com dois tipos de tratamento. Um grupo de 20 mulheres recebeu o implante liberador do hormônio etonogestrel com 24 a 48 horas após o parto. O grupo controle, de 26 mulheres, seguiu o que prevê a Organização Mundial da Saúde (OMS): iniciou o método contraceptivo somente seis semanas após o parto. Desse grupo, seis não retornaram após as seis semanas do parto e foram excluídas da pesquisa, ficando o grupo controle também com 20 mulheres. As participantes tinham idades entre 18 e 35 anos, IMC menor que 30, não fumantes, não usuárias de drogas, sem patologias e com gestação única.

Resultados iniciais
Segundo Milena, os dados clínicos iniciais apontaram que no grupo com o implante não houve risco para a amamentação nem interferência negativa no peso da mulher, que inclusive teve redução mais rápida do Índice de Massa Corpórea (IMC) do que o grupo controle. “No geral, os dados clínicos revelaram que o implante é seguro e ainda com a vantagem de ser mais eficaz que a laqueadura, pois esse é um método definitivo”.

A pesquisadora começa nesta semana a analisar o efeito do implante sobre o sistema hemostático, responsável pelo desencadeamento da trombose. “O objetivo inicial do trabalho era avaliar se o hormônio etonogestrel aumenta ainda mais o risco de trombose no período de até seis semanas após o parto, quando a chance de desenvolver este problema chega a 84% nas mulheres”, conta. “Fora desse período, já sabemos que o implante não prejudica a lactação nem o desenvolvimento infantil. Se conseguirmos provar que não há risco também de trombose, o implante será uma opção para aquelas mulheres em situações que podem levar a uma gravidez indesejada, como as usuárias de drogas, moradoras de rua, e com dificuldades de acesso ao serviço de saúde”, explica.

Mesmo antes de concluir a pesquisa, o método já chamou a atenção da comunidade científica internacional. A brasileira foi a primeira e única ginecologista a apresentar trabalho no “Campus de Excelência”, evento promovido pela Universidade de Las Palmas, Ilhas Canárias, Espanha, e que reuniu prêmios Nobel, estudantes de pós-graduação, pesquisadores, empresários, lideres políticos e chefes de estados de todo o mundo, em junho passado.

Custo-benefício
Para a orientadora do trabalho, a professora Carolina Sales Vieira Macedo, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP/USP, o projeto despertou o interesse da comunidade científica internacional por abrir a possibilidade de atingir diretamente a população de baixa renda. Para ela, o controle de natalidade no Brasil — que, segundo dados oficiais, atingiu níveis europeus —, é relativo. “Esse controle divulgado no País não é real. Os dados sobre controle de natalidade são de locais assistidos. Os desassistidos, que são a maioria da população carente, não são computados nessas pesquisas”, enfatiza Carolina.

A eficiência, caso seja totalmente comprovada, esbarra num outro grave problema: o preço, um empecilho para as pessoas de baixa renda. O bastão custa R$600,00, em média, e é fabricado somente por uma empresa no Brasil, sem contar os custos com a implantação. “Nossa luta será provar que o custo-benefício desse método é vantajoso para o Sistema de Saúde no Brasil e colocá-lo na rede pública. Basta calcular o que se gasta com pré-natal, parto e manutenção dessas crianças. Na China, esse é um método bastante utilizado”, diz Carolina.

O projeto de mestrado, Efeito do implante liberador de etonogestrel sobre o sistema hemostático no puerpério de mulheres sadias, deverá ser concluído até o final do ano.

Fonte: Rosemeire Soares Talamone, da Assessoria de Comunicação do campus de Ribeirão Preto

Mais informações: (16) 3602-2926 / 2815 /2816 ou e-mail milenabastos22@yahoo.com.br

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