Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos: primeira turma de especialização conclui curso

A professora e pesquisadora Vera Lucia Marques da Silva tem motivos de sobra para comemorar: a finalização da primeira edição do curso de especialização em Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos (GeSeDihs). A formação é oferecida pelo Grupo Direitos Humanos e Saúde Helena Besserman da ENSP. Pioneiro no Brasil na área, o curso foi criado em 2012 por Vera, que é doutoranda em Ciências Sociais pela PUC-Rio, em parceria com as pesquisadoras do Rita de Cássia Vasconcellos da Costa e Marise Freitas Alves (Dihs/ENSP).

Seu objetivo foi colaborar com o processo de educação, formação e aperfeiçoamento de líderes de movimentos sociais, políticos e tomadores de decisão na discussão sobre as desigualdades sociais marcadas especificamente pelo viés de gênero e sexualidade, abrangendo, também, recortes de raça e classe social. Os temas apresentados foram divididos em 22 unidades de aprendizagem.

O curso foi desenvolvido no âmbito do programa Pró-Equidade de Gênero da Fiocruz, por meio do qual a Fundação recebeu o selo da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM). Ele teve início em setembro de 2012, e a conclusão e a apresentação dos trabalhos de conclusão de curso (TCCs) ocorreram nos dias 29 e 30/10.

Em entrevista ao Portal ENSP, Vera Lucia falou sobre a experiência obtida com a primeira turma da especialização e comentou as expectativas geradas a partir do desenvolvimento desse novo campo de discussão dentro da Fiocruz.

Informe ENSP: Como surgiu a ideia para a criação do curso de especialização?

 Vera Lucia: A ideia surgiu, primeiramente, a partir da grande demanda por vagas em nossos cursos sobre gênero e sexualidade. Em um segundo momento, verificamos a inexistência no país de cursos lato sensu presenciais com essa temática.

Informe ENSP: Qual a importância da discussão de gênero, sexualidade e direitos humanos em um país que não apresenta uma cultura democrática completamente consolidada?

 Vera Lucia: Essa discussão é extremamente pertinente, independentemente do grau de amadurecimento democrático de um país. Sua pertinência está vinculada à necessidade gritante de enfrentamento das desigualdades, particularmente marcadas pelo gênero e pela sexualidade, além, é claro, da raça e da classe, existentes em diversos âmbitos da vida social.

Informe ENSP: A temática abordada no curso tem um vínculo histórico com os movimentos sociais. Como você vê a atual relação entre a academia e esses movimentos?

 Vera Lucia: É preciso reiterar que todo conhecimento produzido pela academia está alicerçado na realidade social. Assim, quando se ressalta “a” academia e “os” movimentos sociais, pretende-se acentuá-los como sujeitos políticos com dinâmicas de atuação diferenciadas. No Brasil e em várias partes do mundo, percebe-se entre ambos uma forte e necessária interlocução, que vem colaborando no enfrentamento de diversas formas de injustiças sociais.

Informe ENSP: Qual foi a recepção do curso entre os diversos atores sociais – militantes, acadêmicos, agentes públicos – que lidam diariamente com essa temática? Qual é o perfil da primeira turma?

 Vera Lucia: A recepção foi excelente! Tivemos um número altíssimo de candidatos inscritos no processo seletivo para formação da turma, entre eles, encontramos militantes dos movimentos feminista e de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), vários funcionários públicos, tanto do Estado do Rio de Janeiro como de outras localidades do país, além de pessoas envolvidas em pesquisas acadêmicas. Formamos, portanto, uma turma bastante plural. Vale ressaltar que isso também ocorreu com a segunda turma, que iniciou as atividades em agosto deste ano e terminará em agosto de 2014.

Mas a repercussão não para por aí. No âmbito das instituições públicas, recebemos solicitações para levarmos o curso a outros estados brasileiros. Na Fiocruz, fomos convidados a formular capacitações com essa temática. Na esfera acadêmica, vários de nossos alunos apresentaram seus trabalhos de fim de curso em seminários e congressos. Quanto aos movimentos, estreitamos laços e parcerias.

O curso de especialização em Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos é gratuito. As inscrições para a terceira turma do GeSeDihs devem começar em abril e as atividades do curso iniciar em agosto de 2014.

 

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