Em cada 100 adolescentes paulistas, 97 precisam rever seus hábitos alimentares. "O principal problema é o consumo excessivo de gordura e a deficiência ou ausência do consumo de fibras", relata a nutricionista Samantha Caesar de Andrade. Em 2002 ela entrevistou 1.584 jovens, com idade entre 12 e 19 anos, nas cidades de São Paulo, Campinas e Botucatu. "Obtivemos uma amostra representativa de todo o Estado, de acordo com a metodologia proposta pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INEP", explica.
Os resultados estão na dissertação de mestrado Índice de qualidade da dieta e seus fatores associados em adolescentes no Estado de São Paulo apresentada no final do ano passado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Samantha considera os resultados alarmantes: apenas 3% dos adolescentes entrevistados apresentaram uma dieta considerada saudável.
Cada um dos jovens respondeu um questionário sobre suas refeições no dia anterior à pesquisa. As repostas foram tabuladas e submetidas a análise por um software destinado a identificar nessas refeições dez indicadores pontuados de 0 a 10: as quantidades de cereais, hortaliças, frutas, leite e derivados, carne e ovos, leguminosas, gordura total, colesterol, sódio e a variedade da dieta. Somando esses dez indicadores obtivemos o chamado IDQ [Índice de Qualidade da Dieta] que pode variar de 0 a 100. As dietas podem ser consideradas saudáveis quando essa soma ultrapassa os 80 pontos, explica Samantha.
Dados preocupantes
Para a nutricionista, os dados revelados pelo estudo são alarmantes. "Entre os entrevistados, 60% declaram não consumir nenhuma fruta no dia anterior à entrevista. É algo preocupante, alerta.
De acordo com Samantha, o dado preocupa porque a adolescência é a época onde se formam os costumes e hábitos da vida adulta. Em relação à alimentação, segundo ela, isso não é diferente. Nossa intenção agora é refazer o procedimento com os mesmos adolescentes, alguns já adultos, para verificar a evolução desse processo, avisa.
Durante a análise das respostas, observou-se que a desregulação dos hábitos alimentares estava ligada a um fator de idade. Adolescentes mais velhos apresentaram dieta menos saudável do que os mais novos. Para Samantha, isso se deve a dois fatores: poder aquisitivo e menor controle dos pais. A tendência é que um jovem de 19 anos passe mais tempo fora de casa e, por isso, a alimentação seja baseada em fast-foods e comidas menos saudáveis. Além disso, a maioria dos adolescentes nessa faixa etária já trabalha e tem mais autonomia nas escolhas", afirma Samantha.
Ainda de acordo com a nutricionista, os dados da literatura médica apontam uma tendência de piora que pode ser constatada nas taxas de adolescentes com sobrepeso. Para se ter uma idéia: na década de 1970, 4% dos adolescentes homens e 7,5% das adolescentes mulheres estavam acima do peso. Hoje essa taxa é de 18% e 15,5%, respectivamente.
Espero que os resultados da minha pesquisa sirvam para balizar políticas públicas de saúde voltadas para a educação dos hábitos alimentares, diz a nutricionista.
Mais informações: (0XX11) 8555-8593 ou pelo e-mail sami@usp.br. Pesquisa orientada pela professora Regina Mara Fisberg.