Um projeto desenvolvido na Faculdade de Medicina (FM) da USP elaborou um questionário de avaliação de pacientes em tratamento de hepatite-B crônica para avaliar o grau de comprometimento deles em relação às prescrições médicas com antiviriais. Os resultados permitiram aos pesquisadores estabelecer uma relação entre a adesão dos enfermos ao tratamento e um nível indetectável de carga viral no organismo.
A dissertação de mestrado do farmacêutico especialista em Farmácia Hospitalar e Clínica, Rodrigo Martins Abreu, buscou validar um questionário de avaliação da adesão do tratamento em pacientes que apresentavam um estágio avançado de hepatite-B. A doença, apesar de já possuir um programa de vacinação, ainda afeta milhares de pessoas no País e é assintomática. Os primeiros sinais só aparecem quando a enfermidade já evoluiu para casos mais graves, como cirrose hepática.
Segundo o pesquisador, a ideia partiu da verificação de que, na farmácia ambulatorial do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, vários pacientes não vinham buscar o medicamento indicado. “Quando começamos o estudo, havia uma adesão de apenas 70% dos pacientes com relação à retirada de medicamentos. Isso era preocupante, pois esses medicamentos só podem ser retirados em farmácias especializadas, vinculadas à Secretaria de Estado de Saúde. E isso significava que aproximadamente um terço deles não estava seguindo o tratamento”, afirma.
Avaliação de conteúdo
Para tentar reverter esse quadro, Rodrigo desenvolveu o questionário de acompanhamento baseado em uma outra sondagem validada para pacientes com HIV. A proposta foi adaptar as perguntas para o grupo que sofria de Hepatite-B crônica. “Durante a fase de elaboração do questionário, fizemos uma avaliação de conteúdo com médicos especializados na área para saber se as perguntas eram pertinentes”, ressalta.
O questionário elaborado é um auto-relato, no qual “o paciente responde às perguntas e acumula uma pontuação, que pode variar de 17 a 89 pontos, sendo que 89 pontos representaria o máximo de adesão”, explica o pesquisador. Outro ponto explorado foi a diferenciação dos grupos de pacientes. “A ideia era observar se a partir dessas respostas podemos dizer, paralelamente ao grau de adesão, se o paciente possui carga viral detectável ou indetectável”.
Ao todo, 183 pacientes responderam às perguntas elaboradas. Deste número, apenas 56,8% dos pacientes registraram adesão ao tratamento. “Esse dado, além de comprovar o que observávamos na farmácia, demonstra que chegamos a um nível preocupante de falta de comprometimento com a prescrição médica”.
Os resultados conseguiram estabelecer também que todos os 113 pacientes que conseguiram uma pontuação maior ou igual a 80 nos exames laboratoriais não apresentaram uma carga viral detectável. “No universo dos 183 que participaram, 70 deles fizeram pontuação entre 71 e 79,25. Nos exames que procuravam identificar se no organismo havia a presença do vírus da doença, observamos um resultado positivo”.
Para Martins, esses resultados comprovaram a validação do questionário, que poderá auxiliar o médico na hora do atendimento ao paciente. “Na hora da consulta, o médico não sabe se o paciente realmente está tomando os remédios. E essas perguntas em série aparecem como uma forma alternativa de investigação e acompanhamento”.