Mais de 80% dos adultos e idosos das regiões Sul e Nordeste têm acesso a todos os medicamentos de uso contínuo de que necessitam para tratamento de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e/ou problemas de saúde mental. A boa notícia está num artigo publicado na edição de fevereiro do periódico científico Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. Apesar do resultado otimista, os autores frisam que a parcela da população que não tem acesso a esses medicamentos é significativa e não pode ser esquecida.
Outro aspecto evidenciado pela pesquisa chama a atenção: ainda que, de maneira geral, o acesso aos medicamentos de uso contínuo seja elevado, ele é menor no Nordeste, se comparado ao Sul. Este achado é preocupante, pois demonstra iniqüidade no acesso a medicamentos: a maioria da população avaliada no Nordeste pertence aos estratos econômicos D e E, dependendo basicamente, portanto, do setor público para a obtenção de medicamentos, afirmam a epidemiologista Vera Paniz, da Universidade Federal de Pelotas, e co-autores no artigo.
A pesquisa utilizou dados do Projeto de Expansão e Consolidação Saúde da Família (Proesf) relativos aos 41 municípios com mais de 100 mil habitantes em sete estados das regiões Sul e Nordeste: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. No total, foram analisados dados de 8 mil adultos e idosos. O Proesf é financiado pelo Ministério da Saúde e pelo Banco Mundial.
Entre os idosos das duas regiões, um nível de escolaridade maior foi associado a um maior acesso aos medicamentos. O efeito da escolaridade sobre o acesso a medicamentos pode indicar que indivíduos com maior grau de instrução percebem melhor suas necessidades em saúde, procuram mais assistência e têm maior grau de autonomia na busca de redes alternativas para atender a suas demandas, explicam os pesquisadores. No Sul, idosos com nove ou mais anos de estudo tiveram uma probabilidade 11% maior de acesso aos medicamentos quando comparados àqueles totalmente sem estudo. No Nordeste, essa probabilidade chegou a ser 14% maior.
O tipo de doença crônica referida também esteve associado ao acesso a medicamentos. De modo geral, adultos com hipertensão ou diabetes tiveram maior acesso do que aqueles com problemas de saúde mental. Entre os adultos da região Sul, uma comparação entre os indivíduos com diabetes e os com problemas de saúde mental mostrou que o acesso a medicamentos foi 26% maior para os primeiros.
Além disso, os pesquisadores investigaram a relação entre o acesso a medicamentos de uso contínuo e o modelo de atenção. Entre os idosos da região Nordeste, verificou-se que os atendidos pelo Programa Saúde da Família (PSF) tinham um acesso 9% maior que os atendidos pelo modelo tradicional. Segundo os autores, isso aponta para o impacto positivo do Programa em áreas onde havia um grande déficit de serviços básicos de saúde.