Tese de doutorado aborda a violência contra a mulher nas relações conjugais

A saúde pública tem papel fundamental na prevenção e atenção a pessoas em situação de violência. Segundo o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2002, algumas medidas como a coleta de dados sobre a violência, a criação e implementação de planos nacionais de prevenção, o apoio à pesquisa sobre causas e conseqüências da violência e a promoção da igualdade social e de gênero devem ser prioridades na busca pelo fim da violência, especialmente contra a mulher. Pensando nisso, a psicóloga Corina Mendes, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) da Fiocruz, desenvolveu a tese de doutorado Vozes do slêncio: estudo etnográfico sobre violência conjugal e fertilidade feminina, no Instituto Fernandes Figueira (IFF), outra unidade da Fundação. O estudo buscou compreender as escolhas de mulheres vítimas de violência conjugal, relacionadas ao campo da saúde reprodutiva, especialmente sobre a decisão de engravidar. A pesquisadora constatou que a idealização da família de origem e a ausência de afeto e proteção na infância influenciam nas escolhas amorosas e na decisão de ter filhos dessas mulheres.

“Durante a gravidez há a esperança de reparação ou consolidação da família por meio dos filhos, atribuindo a eles a expectativa de garantir a estabilidade e segurança à vida conjugal, o que geralmente não acontece, expondo a mulher a riscos ainda maiores de violência”, ressalta Corina. A pesquisa baseou-se na experiência da pesquisadora no trabalho com gestantes no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e na Assessoria de Prevenção de Acidentes e Violência da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro. O trabalho de campo foi realizado no Centro Integrado de Atendimento à Mulher (Ciam), serviço do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim), que presta atendimento psicossocial e jurídico a vítimas de violência.

Para a psicóloga, a organização dos serviços da rede pública de saúde deve privilegiar os espaços de discussão de casos que envolvam atendimentos, não só a mulher, mas a todas as pessoas em situação de violência, trabalhando em rede intersetorial e ampliando os recursos de proteção e promoção de comportamentos protetores. Além disso, deve-se investir na formação dos profissionais e na estruturação de serviços de saúde numa perspectiva de integralidade e equidade. “Em situações de violência intrafamiliar, não basta prescrever medicamentos ou condutas. É preciso criar vínculos de confiança com a mulher que atendemos, para que no momento em que ela estiver pronta, tome a decisão correta em relação à sua vida conjugal”, explica a pesquisadora.

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