Fortificação da farinha combate anemia entre pré-escolares

Obrigatório desde 2004, o enriquecimento das farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico foi uma forma encontrada pelo Governo Federal para tentar combater os altos índices de anemia na população brasileira. Um estudo realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP comprovou que, entre pré-escolares da cidade de São Paulo, o ferro adicionado reduziu acentuadamente os níveis da anemia causada pela deficiência do mineral.

A pesquisa foi realizada por Cleber Alves Costa em sua dissertação de mestrado. Foram analisadas 459 crianças, de 2 a 5 anos, freqüentadoras de 6 creches da região do Butantã. Nesta análise, 21% das crianças apresentaram a anemia ferropriva, causada principalmente pela falta de ferro na alimentação. A comparação com pesquisa realizada em 2001, período anterior ao enriquecimento das farinhas, quando foi encontrado 69% de anemia em crianças de creches paulistanas, permite concluir que após o enriquecimento houve uma significativa redução do problema para este grupo.

“Não está claro ainda se toda a população está sendo efetivamente beneficiada com o enriquecimento das farinhas”, explica Costa. “O que se pode afirmar, por enquanto, é que os pré-escolares, que têm acesso diário aos alimentos à base de farinhas de trigo e milho devido ao cardápio programado das creches, tiveram índices de anemia bem menores em relação a 2001”. Um dos motivos da escolha das crianças para a pesquisa foi a avaliação do aporte de ferro provido pela alimentação escolar.

”Estas crianças consomem uma quantidade razoável de derivados de farinha, oferecidos no cardápio das creches, principalmente pães, biscoitos e macarrão”, afirma o pesquisador. Os cálculos dos nutrientes presentes na alimentação das crianças, feitos antes e depois da fortificação, mostram um aumento médio de 31% a 41% na quantidade de ferro total na dieta.

Costa também escolheu o grupo de pré-escolares por ser um dos mais suscetíveis à falta de ferro. A fase de crescimento enfrentada nesta idade exige o aumento do volume sangüíneo, necessitando para isto uma alimentação rica em ferro, utilizado pelo corpo na formação dos glóbulos vermelhos, que transportam oxigênio a todo o corpo. A falta do mineral pode prejudicar o crescimento e o desenvolvimento motor, além da cognição, prejudicando o aprendizado escolar.

”Os cafés da manhã e da tarde foram as refeições mais beneficiadas pelo enriquecimento, mas estas refeições não costumam ter agentes facilitadores da absorção do ferro, como a vitamina C e as carnes”, explica Costa. A vitamina C, presente em vários tipos de suco, é servida geralmente apenas na colação (suco servido entre o café da manhã e o almoço), e as carnes costumam ser oferecidas apenas no almoço ou jantar. O pesquisador propõe pequenas mudanças nos cardápios, que possibilitem uma maior absorção do ferro presente nos alimentos. “Deve-se incentivar a inclusão de sucos ricos em vitamina C e carnes nas refeições”.

A escolha da farinha:

No Brasil, a anemia ferropriva atinge por volta de 30% a 69% dos pré-escolares. Após várias pesquisas bem-sucedidas com alimentos fortificados com ferro, atuando na redução da anemia, o governo brasileiro decidiu pelo enriquecimento das farinhas de trigo e milho com o mineral. “Além de serem consumidas em todas as regiões do País e estarem presentes na cesta básica, as farinhas são produzidas de forma centralizada, por um número reduzido de empresas, facilitando tanto o enriquecimento quanto a fiscalização do produto”, explicou o pesquisador.

Mais informação: (0XX11) 8218-3568 ou pelo e-mail cacosta@usp.br, com Cleber Alves Costa. Dissertação de mestrado orientada pela professora Sophia Cornbluth Szarfarc, da FSP

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