Dieta de fibras, com frutas e verduras, ajuda a equilibrar a população de micro-organismos
Trilhões de bactérias vivem no intestino humano, e elas têm uma função importante no equilíbrio do corpo. Dois estudos publicados ontem na revista “Nature” mostram que a diversidade e a quantidade destes micro-organismos é menor em pessoas obesas do que com peso normal e que algumas espécies delas servem de marcadores para o risco de doenças relacionadas à obesidade.
– Isto é totalmente novo. Estamos abrindo caminho para testes simples de diagnóstico – defende um dos autores, Dusko Ehrlich, do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola, na França. – Observando apenas seis espécies de bactérias, podemos dizer quem tem alto risco de ter doenças relacionadas à obesidade com 95% de precisão.
Quanto maior a diversidade da microbiota, mais forte é o sistema imune, além de maior a produção de vitaminas e de substâncias bioativas que penetram na corrente sanguínea. Fatores genéticos podem influenciar na composição, afirmam cientistas, mas Ehrlich diz que o estilo de vida é também importante. Ele mostra que a dieta rica em fibra, com frutas e vegetais, pode recuperar o equilíbrio das bactérias.
– Demonstramos que a nutrição diminui esse risco, aumentando a riqueza de bactérias. Também abrimos caminho para a produção de probióticos que ajudem na luta contra o ganho de peso – afirmou.
Outro estudo, da Universidade de Copenhague, fez análises genéticas destes micro-organismos e mostrou que pessoas com menor quantidade e diversidade deles são mais obesas do que as demais. Nelas, há ainda o predomínio de bactérias que causam inflamações no trato digestivo, o que afeta o metabolismo e aumenta o risco de diabetes tipo 2 e de doenças cardiovasculares.
– Notamos que se a pessoa pertencer ao grupo de pessoas com menor diversidade da macrobiota e já desenvolveu a obesidade, poderá ganhar mais peso ao longo dos anos – acrescentou Oluf Pedersen. – Não sabemos o que vem antes, o ovo ou a galinha, mas é um ciclo vicioso que ameaça a saúde.
Segundo o pesquisador, o estudo vai além da compreensão da obesidade e mostra que 23% da população, seja o magro ou o obeso, têm pouca diversidade e quantidade de bactérias. Estas pessoas têm mais inflamações, maior resistência à insulina e elevado nível de gordura no sangue, o que, naturalmente, aumenta o risco de doenças relacionadas à obesidade.
– Os estudos reforçam a importância da dieta. Se como mais alimentos calóricos, ganho peso e, ao mesmo tempo, tenho um desequilíbrio da microbiota intestinal, o que pode agravar o problema – explicou Erasmo Trindade, que faz pesquisa semelhante na Universidade Federal de Santa Catarina.
(Flávia Milhorance/O Globo)
http://oglobo.globo.com/ciencia/obesos-tem-menos-bacterias-intestinais-9735809#ixzz2dMgwl54R