Pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP revela que quanto mais cedo o adolescente se envolver com drogas, maiores são as chances de participar de atos infracionais precocemente. O estudo, realizado pela psicóloga Mayra Martins, concorrerá em outubro a um prêmio da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), do governo federal, destinado a trabalhos científicos relacionados ao consumo de drogas.
Entre julho de 2005 a junho de 2006, Mayra entrevistou 150 adolescentes do sexo masculino, que cumpriam medida sócio-educativa de internação nas Unidades da antiga Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, atual Fundação Casa), de Sertãozinho e Ribeirão Preto, pela primeira vez, na faixa etária entre 12 a 21 anos. A maioria dos adolescentes (63,4%) vinha de estrutura familiar monoparental, ou seja, chefiada somente pelo pai ou pela mãe. A maioria dos adolescentes tinha nível socioeconômico baixo, apresentava baixo nível de escolaridade e se mantinha com a prática de infrações para sobreviver, diz a psicóloga.
Ds adolescentes pesquisados, 96,7% já havia experimentado maconha e 82% ainda faziam uso da droga, 77% disseram já ter usado cigarro e 65%, cocaína. Nos atos infracionais, 66% se envolveram em roubo, 74% com o tráfico de drogas e 59% com furto. A pesquisa apontou ainda a existência de forte associação entre o uso do álcool e da maconha com delitos, exceto homicídio, e o uso do crack com o tráfico de drogas.
Esses dados confirmam que quando o uso de drogas ocorre precocemente, existe uma chance maior destes adolescentes se envolverem também mais cedo com comportamentos de risco, afirma Mayra.
Riscos
A pesquisa faz parte da dissertação de mestrado de Mayra, defendida em abril deste ano. O trabalho foi orientado pela professora Sandra Pillon, da EERP. Estudos nacionais e internacionais também apontam cada vez mais o uso precoce dessas drogas entre adolescentes com idade entre 10 a 12 anos e até mesmo início desse uso aos 8 anos, alerta Sandra. As pesquisas revelam que quanto mais cedo esses jovens se envolvem com o uso de drogas maior a possibilidade de comprometimentos físicos, doenças físicas, mentais e sociais, como abandono escolar, por exemplo.
Segundo a professora da EERP, vários estudos confirmam que o uso de drogas pode ser reduzido ou mesmo abandonado com o amadurecimento. Porém, esta redução depende de outros fatores como família, religião, personalidade, escolaridade e grupo de amigos, explica. Com relação ao álcool, a maioria provou em casa por vontade própria na presença de algum familiar, e com o cigarro e a maconha a maior parte dos jovens provou pela primeira vez por vontade própria, na escola ou na rua, depois que viu algum amigo fumando.
Mayra afirma que nos relatos dos adolescentes, os atos infracionais são justificados pela necessidade de ajudar a mãe ou a família, uma vez que estes vivem em situações de pobreza e até mesmo com falta de comida. Os jovens também justificam a prática de delitos com a necessidade de obter drogas para manter o consumo, obter dinheiro para comprar tênis e roupas e acompanhar o estilo da moda juntos com os amigos nas baladas.
De acordo com a pesquisa, o número de reincidências em atos infracionais após a saída da Febem é de 30%. É possível concluir que boa parte destes adolescentes quando saem da internação também deixam a prática infracional, vontade que é expressa nas entrevistas quando a maioria dos jovens diz sonhar com uma vida normal, destaca a psicóloga.
O trabalho de Mayra concorre ao prêmio da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) que anualmente escolhe os melhores trabalhos sobre o uso de drogas e suas conseqüências. A premiação acontecerá durante o I Seminário Internacional da Rede de Pesquisa sobre Drogas, dia 19 de setembro.
(Com informações do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto)
Mais informações: (0XX16) 3627-0695, com Mayra Martins, e (0XX16) 3602-3425, com Sandra Pillon