Convivência familiar problemática pode desencadear quadros de anorexia

Dificuldades na convivência familiar, principalmente na relação com a figura materna, são fatores determinantes para o desenvolvimento de transtornos alimentares em adolescentes e jovens mulheres.

A conclusão parte de um estudo clínico desenvolvido no Instituto de Psicologia (IP) da USP pela pesquisadora Elaine Soares Neves Lange. Ela analisou a relação de três mulheres anoréxicas (de 14, 23 e 30 anos) com suas famílias, principalmente no que diz respeito à convivência com as mães.

"Desde o desenvolvimento inicial da pessoa, nos primeiros anos da infância, os vínculos familiares das pacientes mostraram-se muito frágeis, permeados por dificuldades maternas na criação das filhas", diz.

Segundo a pesquisadora, o ser humano nasce com uma série de necessidades, não só de ordem fisiológica, mas também afetiva. Estas, segundo ela, devem ser supridas prioritariamente pela mãe da criança, maior responsável por oferecer amor, carinho e cuidado a seu filho.

Após entrevistar as pacientes e cruzar as respostas com dados de testes psicodinâmicos (que valorizam a resposta inconsciente do indivíduo), Elaine observou que o desenvolvimento tanto das mulheres anoréxicas como de suas mães contou com os vínculos familiares inadequados.

Um dos principais problemas detectados foi o que ela chama de transgeracionalidade. "As mães das anoréxicas também tiveram dificuldades de relacionamento com suas mães. As falhas relacionais passaram de uma geração para outra e resultaram no desenvolvimento do transtorno alimentar", esclarece.

Centro das atenções
Para Elaine, os quadros que caracterizam a anorexia começam a aparecer na adolescência, quando a pessoa está em busca de sua identidade e independência. "Nas famílias em que os filhos não são o maior alvo de preocupação dos pais, a jovem não encontra espaço para impor sua personalidade."

Essa situação, segundo Elaine, faz com que a adolescente busque alternativas para chamar a atenção da família para si e se transformar no centro das atenções. "Deixar de comer é uma opção para alcançar esse objetivo."

"Dessa forma, os pais passam a se preocupar excessivamente com a filha, que está doente e não se alimenta. Ela passa, então, a controlar a dinâmica familiar por intermédio da inanição, virando o centro das atenções", explica.

Apesar de estarem intimamente ligados ao desejo de um corpo que atenda aos padrões de beleza atuais, os transtornos alimentares, como mostra o trabalho de Elaine, não são decorrência somente da cultura da imagem, tão em voga em nossa sociedade. Antes da influência da mídia ou de qualquer outro fator, a relação familiar é determinante. "Problemas dessa natureza desenvolvem-se a partir do momento em que a adolescente não tem suas necessidades supridas", conclui Elaine.

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