As mulheres pobres, jovens e nordestinas são mais vulneráveis aos abortos inseguros no Brasil, onde no ano passado a média diária foi de 686 internações no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento de complicações pós-aborto. É o que mostra o relatório "Morte e Negação: Abortamento Inseguro e Pobreza", divulgado hoje (30) pela Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na siga em inglês), entidade que atua em 150 países.
De acordo com a federação, o Brasil é responsável por 1 milhão de interrupções de gravidez de forma insegura a cada ano. O estudo revela que a média brasileira no ano passado foi de 2,07 abortos induzidos por grupo de 100 mulheres. O problema é mais grave na Região Nordeste, onde a taxa é de 2,73, maior que a média nacional. A Região Sul foi a que apresentou a menor taxa, de 1,28 por 100 mulheres. O relatório aponta o Nordeste como uma das regiões de menor poder econômico, onde as mulheres têm menos acesso aos serviços de saúde e que concentra as maiores taxas de analfabetismo, de 18%.
A diretora da IPPF, Carmem Barroso, disse que o número elevado de abortos no Brasil é sobretudo um problema socioeconômico. O Nordeste é a região mais pobre do Brasil, onde as mulheres têm menos acesso à informação, menos acesso aos meios de evitar uma gravidez e que portanto se vêem desesperadas com a gravidez indesejada e recorrem ao aborto em maior número, afirmou a diretora, em entrevista coletiva para apresentação do relatório.
Segundo ela, outro fator de preocupação é que as mulheres brasileiras engravidam cada vez mais cedo, o que aumenta o número de abortos entre as meninas e as adolescentes. De acordo com o estudo, em 2005 foram registrados 2.781 atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) de meninas de 10 a 14 anos para tratamento de complicações pós-aborto. Entre as mulheres de 15 a 19 anos, foram 46.504 atendimentos.
A Federação Internacional de Planejamento Familiar calculou a ocorrência de um caso de aborto em cada grupo de 138 adolescentes na região Norte, contra um aborto em 318 adolescentes na região Sul. As meninas de 10 a 14 anos são as que têm menos informações e menos recursos para evitar uma gravidez e menos recursos para se submeter a um aborto mais seguro, afirmou a diretora da IPPF, acrescentado que o aborto é um problema coletivo e não individual.
Veja também:
Tratamento de complicações após aborto inseguro custou R$ 33,7 milhões ao SUS
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/05/30/materia.2007-05-30.5717633880/view