Em uma pesquisa realizada com 1014 motoristas de caminhão, 735 declararam fazer uso de bebida alcoólica. Nesse grupo, 31% (229) já sofreram acidente de trânsito, 196 tinham alguma doença crônica e 189 faziam uso de medicamentos. A hipertensão arterial severa foi identificada em 70 motoristas e a diabetes mellitus em 33, sendo que 56 apresentaram níveis glicêmicos considerados altos e que poderiam levar a diabetes.
A pressão arterial acima dos limites, encontrada entre os bebedores de risco, pode levá-los a desenvolver doenças cardiovasculares, mas também não estão imunes aqueles que fazem uso em doses consideradas de baixo risco. A questão é preocupante, pois eles não têm percepção desse risco, relata a professora Sandra Cristina Pillon, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, que orientou o trabalho realizado pela mestranda Josélia Benedita Carneiro Domingos. As alunas Fernanda Bruzadelli e Ligia Arantes também participaram da pesquisa.
Segundo a professora, a vulnerabilidade de todo o grupo para o adoecimento é muito grande, pois a própria condição de trabalho, de até 12 horas diárias, leva ao sedentarismo, a noites mal dormidas, sem contar o uso das anfetaminas, muito presente nesse meio. Sandra ainda alerta para o fato de que são pessoas que não fazem checagem da saúde com freqüência e também param de tomar os remédios prescritos para beber. Os riscos são bastante favoráveis, pois as condições de saúde são precárias, a maioria afirmou que nunca pensou em pressão arterial alterada como doença crônica, afirma.
Saúde na estrada
O estudo foi feito junto com a Campanha Saúde na Estrada, da Autovias, concessionária que opera nas rodovias da região de Ribeirão Preto. O objetivo era rastrear o uso de bebidas alcoólicas entre motoristas, principalmente de caminhões, nas estradas, conhecer a percepção deles quanto aos riscos da bebida e a sua associação com medicamentos e ainda iniciar um programa de prevenção junto a essa população, levando a informação sobre o uso saudável da bebida alcoólica, deixando claro quais são os limites.
Os dados foram obtidos em duas das campanhas promovidas pela concessionária, em agosto e novembro de 2006. No perfil dos entrevistados estão homens casados, com baixo nível de escolaridade, da religião católica, com idade média de 40 anos e que trabalham de 10 a 12 horas diárias. O questionário utilizado para a pesquisa foi o Audit (Alcool User Disorder Identification Test), elaborado pelo pesquisador americano Thomaz Babor, e utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pois permite avaliar o padrão de beber em diferentes populações de diversos países.
A professora Sandra lembra que os resultados encontrados na região de Ribeirão Preto não se diferenciam de outras pesquisas já realizadas e é compatível com o levantamento nacional do uso de álcool realizado pelo Ministério da Saúde. Mas essa foi a primeira vez que o uso de bebida alcóolica foi avaliado nessa população e dessa forma, quem bebe mais e os riscos decorrentes. Por isso, o próprio Babor solicitou que encaminhássemos informações sobre os resultados. A especificidade do grupo pesquisado chamou a atenção do pesquisador americano, relata.
Trabalho preventivo
A professora pretende ampliar esse estudo, firmando convênio com a Autovias, e aproximar os alunos da Enfermagem da prática, mantendo e investindo mais no trabalho preventivo nas estradas, sempre voltado para o uso do álcool.
De acordo com Sandra, o Brasil tem cerca de 1,2 milhões de motoristas nas estradas e o adoecimento dessa população traz sérias conseqüências, tanto do ponto de vista da saúde pública como econômico, uma vez que muitas famílias dependem exclusivamente dos recursos financeiros oriundos do trabalho desse profissional.
Fonte: Rosemeire Soares Talamone, do Serviço de Comunicação da USP Ribeirão Preto
Imagem: Marcos Santos
Mais informações: (0XX16) 3602-3425, com a professora Sandra Cristina Pillon