Pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP com profissionais de enfermagem mostra que dormir durante curtos períodos em jornadas de trabalho noturno é uma prática eficiente para manter o nível de alerta do trabalhador. O estudo, realizado pelo biólogo Flávio Notarnicola da Silva Borges, verificou o índice de capacidade de trabalho, os ciclos de vigília e sono e os ritmos biológicos dos enfermeiros.
Na primeira etapa da pesquisa, foram aplicados questionários em 696 enfermeiros de um hospital da cidade de São Paulo. "As questões serviram para apontar as variáveis sócio-demográficas, de saúde e ligadas ao ambiente de trabalho que comprometiam a capacidade para o trabalho", afirma Borges. "Na parte sócio-demográfica, ter mais de um emprego, filhos e ser o único responsável pela renda familiar geravam perda de capacidade".
Segundo o pesquisador a idade também influenciou a capacidade de trabalho. Enfermeiros que passaram dos 40 anos e continuam a trabalhar em turnos possuem melhor tolerância, explica, enquanto profissionais que apresentavam perda de capacidade antes dessa faixa etária não fazem mais parte do corpo de trabalhadores.
O estudo aponta que dentro do ambiente de trabalho, o conforto térmico e o abuso verbal também influenciam na aptidão dos enfermeiros. "O abuso é mais sentido quando o profissional foi maltratado verbalmente mais de duas vezes no último ano", conta Borges. "No aspecto da saúde, obesidade, problemas de sono e sensação de fadiga influenciam a capacidade de trabalho".
Alerta
Na segunda etapa do estudo, foram avaliados os ritmos biológicos de dois hormônios, a melatonina (ligada ao sono) e o cortisol (relacionado a resposta ao estresse), através de suas concentrações na urina e também o ciclo vigília-sono, assim como os níveis de alerta de 20 voluntários. "Para o ciclo de vigília-sono, foi um usado um actímetro, aparelho usado para medir os níveis de atividade, combinado a escalas onde os trabalhadores avaliavam a qualidade do sono e os períodos de alerta", diz o pesquisador.
Borges relata que os trabalhadores noturnos que podiam dormir durante a jornada, apesar de terem um sono mais curto e de menor qualidade, mantinham o nível de alerta no trabalho até o final da madrugada, apresentando menor sonolência do que aqueles que não dormiram. "A produção de melatonina é menor do que os trabalhadores diurnos, o que pode acontecer devido a maior exposição noturna à luz", diz. "Ao mesmo tempo, o menor nível de cortisol pode ser um indício de fadiga".
Segundo a pesquisa, a qualidade do sono também varia conforme a tolerância ao trabalho em turnos. "Os profissionais que toleram mais o trabalho noturno tem um sono com melhor qualidade referida, e não apresentam diferenças na produção de melatonina nos períodos de trabalho e de folga", afirma o biólogo. "Os que suportam menos os turnos eram significativamente mais sonolentos".
Borges ressalta que a prática de pequenos períodos de sono durante o trabalho noturno é pouco adotada no Brasil, e quase sempre é feita de modo informal. "Não se deve generalizar as necessidades de repouso, pois há grande variabilidade individual, alerta. Deve-se levar em conta também a vida fora do trabalho e a palavra do próprio trabalhador".
Mais informações: (0XX11) 5041-6970 / 8354-0024, com Flávio Notarnicola da Silva Borges. Pesquisa orientada pela professora Frida Marina Fischer