Uma proposta de comunicação e gerenciamento de risco ambiental aplicado no Edifício União um prédio de sete andares conhecido como cortiço da Rua Sólon, no Bom Retiro, região central de São Paulo desencadeou uma série de alterações na percepção de seus 172 moradores sobre situações de perigo, como o risco de incêndio, acúmulo de lixo, fiação elétrica aparente e o uso de botijões de gás, melhorando as condições do prédio e a qualidade de vida da população local.
Isso ocorreu por meio da análise preliminar das situações de perigo e a exposição dos dados aos residentes, discussões sobre as possíveis soluções para esses problemas, uso de fotos de áreas internas e externas do edifício para sensibilização e conscientização dos moradores, elaboração de um pôster com imagens da evolução das benfeitorias conseguidas, além de entrevistas e aplicação de questionários.
O trabalho foi realizado pela assistente social Patricia Brant Mourão Teixeira Mendes para sua tese de doutorado. A pesquisa integra um projeto interdisciplinar, iniciado em 2001, sobre requalificação de cortiços verticais da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP) com coordenação da professora Maria Ruth do Amaral Sampaio, da FAU. Por isso, os resultados devem ser olhados a partir de um projeto interdisciplinar, que inclui profissionais de diversas áreas, pois as conquistas foram feitas em conjunto, ressalta Patricia.
Participam da iniciativa o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e organizações não-governamentais (ONGs) como a Gaspar Garcia. A FSP entrou no projeto em 2003 a partir da necessidade da elaboração de uma metodologia de comunicação e gerenciamento de riscos ambientais do edifício.
A assistente social realizou um estudo longitudinal, acompanhando os moradores do cortiço entre 2003 e 2006. A pesquisa teve como base a participação coletiva dos moradores na construção de novos conhecimentos, na tomada de decisões, no aprendizado de novas habilidades e no fortalecimento de sua emancipação. É uma proposta viável de ser implantada tanto em cortiços como em favelas, atingindo um número maior de habitações, pois é flexível e barata, relata a pesquisadora, que apresentou seu doutorado em dezembro na FSP.
De cortiço a edifício
Por meio do projeto interdisciplinar várias melhorias foram implantadas, algumas com a participação de empresas localizadas no entorno do prédio, outras por meio de mutirões dos residentes. A fachada foi pintada e as instalações elétricas, trocadas desde a rua até os apartamentos, com os custos bancados pelos próprios moradores. Também foram aplicados cursos de capacitação, entre eles um ministrado pelo IPT que acabou por formar a brigada de incêndio do prédio.
Hoje conhecido como Edifício União, o cortiço abriga 42 famílias e 172 moradores. Sua história começou quando um prédio residencial projetado para ter quatro apartamentos por andar foi abandonado durante a construção na década de 1970. O vigia que tomava conta do edifício deixou de receber seu salário e passou a alugar os espaços locais. Isso ocorreu por volta de 1980. As pessoas pagavam e terminavam a construção como podiam. Por isso, as moradias apresentam tamanhos variados, explica.
A próxima fase do projeto coordenado pela professora Maria Ruth vai incluir uma reforma geral da parte hidráulica (que passa pelo lado de fora do edifício) e da rede de esgotos (que passa suspensa no térreo). Quando sair o usucapião do prédio pretende-se readequar todos os espaços das moradias para deixá-las mais próximas ao projeto original, afirma Patrícia.
A pesquisa da assistente social foi orientada pelo professor Wanderley da Silva Paganini e teve co-orientação do professor Carlos Celso do Amaral e Silva, ambos da FSP.
Mais informações: (0XX11) 9157-1926 ou e-mail patricia.brant@gmail.com