Expedição promove acesso à saúde em comunidades ribeirinhas da Amazônia

As comunidades ribeirinhas de Tabuleta, Carará, Crioulo, Carapanatuba e Malvinas, localizadas a 200 km de Humaitá (AM) e a 400 km de Porto Velho (RO), às margens do rio Madeira, receberam a expedição Saúde Infinita, coordenada pelo Instituto Nacional de Epidemiologia da Amazônia Ocidental (INCT-EpiAmO), sediado na Fiocruz Rondônia. O projeto piloto conta com implantação de infraestrutura básica para realização de telessaúde em comunidade ribeirinha. A proposta é oferecer ao Ministério da Saúde (MS) um modelo de atendimento à saúde em localidades da Amazônia e áreas remotas do Brasil, que sofrem com longas distâncias e dificuldades de comunicação e acesso.

De 10 a 16 de fevereiro, a equipe composta de 22 pessoas realizou visitas a mais de 60 residências nas cinco localidades. Foram realizadas 58 consultas médicas, distribuição de 125 kits odontológicos, aplicação de 56 vacinas contra Covid-19, influenza e outras doenças preconizadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) do MS, além de exames ginecológicos, inserção de DIU, consultas odontológicas, extração e atendimentos de urgência e emergência com encaminhamento de pacientes à equipe médica do Hospital Regional de Humaitá.

Lideranças das comunidades também receberam instruções sobre estratégias de tratamento de água de beber e foram distribuídas pastilhas de hipoclorito de sódio para utilização pelos moradores, uma vez que em dezembro de 2023 a equipe constatou que 100% das amostras de água de beber coletadas estavam contaminadas com coliformes fecais humanos. O projeto é desenvolvido com recursos do CNPq e conta com parcerias com o Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB5) em Monte Negro (RO), a Fiocruz Rondônia, o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem/Sesau), o Hospital Cemetron em Porto Velho, uma faculdade particular e a Secretaria Municipal de Saúde de Humaitá.

Luís Marcelo Aranha Camargo, um dos coordenadores do projeto Saúde Infinita, explica que esta é a quinta visita às comunidades entre os municípios de Humaitá e Manicoré, no sul do Amazonas. Os trabalhos iniciaram em agosto de 2023 e, conforme o pesquisador, este é um projeto piloto com previsão para ser concluído em dezembro de 2024. O objetivo principal é verificar se as opções de intervenção propostas podem incrementar o padrão de saúde da população local, que compreende aproximadamente 350 moradores ribeirinhos que vivem na região do estudo, e multiplicar este modelo para outras áreas remotas do Brasil.

A intervenção se baseia na capacitação de agentes comunitários de saúde em situações variadas, que requerem um melhor entendimento, por parte destes profissionais, na execução de comandos e instruções da equipe médica de forma virtual, com uso da telessaúde, “de modo que ele possa nos auxiliar, por exemplo, em circunstâncias mais rotineiras, como a aferição de pressão arterial, a realização de testes rápidos para infecções sexualmente transmissíveis ou exames físicos básicos que envolvem o reconhecimento da parte de anatomia de um paciente”, explica Luís Marcelo.

O estudo utiliza indicadores de saúde como natalidade, mortalidade, cobertura de serviços de saúde, contaminação da água, percepção da qualidade de vida dos moradores, exame parasitológico de fezes, além de outros indicadores determinantes para a compreensão das condições atuais de saúde da população ribeirinha e os objetivos do projeto, que terão os dados analisados e comparados em suas diferentes fases (antes e depois do estudo).

“A nossa proposta é observar, ao término dos trabalhos, se houve melhora nos indicadores de saúde, se identificarmos os avanços esperados, nós poderemos ampliar as ações do projeto para outras comunidades da Amazônia e regiões remotas do Brasil”, enfatiza o coordenador.

Desafios da saúde e avanços previstos

Dentre os desafios da saúde nas comunidades ribeirinhas da Amazônia, o pesquisador pontua a falta de energia elétrica, a distância entre as localidades, baixa cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF), falta de saneamento básico, surtos de doenças endêmicas, elevada incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) com fatores de risco para estes agravos entre as crianças, baixa cobertura do pré-natal e vacinal, capacitação insuficiente de agentes comunitários de saúde e dificuldades para o diagnóstico de doenças consideradas endêmicas na região, o que acaba inviabilizando o acesso dos ribeirinhos aos serviços de saúde.

A intervenção se baseia na capacitação de agentes comunitários de saúde em situações variadas (foto: Divulgação)

Além disso, as fragilidades na comunicação são outro agravante, “estamos falando de quase 200 comunidades entre os municípios de Humaitá e Manicoré, nossa área de estudo, em que a minoria delas possui acesso à internet”, conclui.

Em resposta a esses desafios, o projeto busca ampliar a cobertura dos serviços de saúde (pré-natal, exames preventivos de câncer de mama e colo de útero, hipertensão, diabetes, dislipidemia, IST’s e hanseníase, dentre outros). Com infraestrutura básica para implantação de telessaúde – incluindo comunicação por satélite, hardware e software específicos – no núcleo avançado do ICB5/USP na comunidade de Tabuleta, busca-se reduzir os custos com deslocamentos desnecessários dos ribeirinhos até a cidade polo, melhorando, assim, a capacidade de resposta dos profissionais de saúde diante dos inúmeros desafios.

“A entrega de receitas com uso de drones é outra inovação que propomos, além de intervenções pontuais para a realização de exames especializados como eletrocardiograma, retinografia, espirometria e atendimentos dos pacientes que têm doença crônica não transmissível, o que na população ribeirinha causa mais preocupação do que as doenças infectoparasitárias”, finaliza Luís Marcelo.