A varíola é uma das doenças mais mortais que já existiu, e estudos sobre múmias egípcias sugerem que ela pode estar circulando entre nós há pelo menos 3 mil anos.
Só no século 20, calcula-se que a varíola matou cerca de 300 milhões de pessoas.
Felizmente, a varíola se tornou a primeira doença erradicada da história há mais de 40 anos, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) certificou seu fim em 1980, após uma bem-sucedida campanha de vacinação global.
Agora, a varíola dos macacos está causando o maior surto da doença já visto na Europa. Cientistas estão investigando o que está acontecendo.
No momento, as autoridades médicas afirmam que as chances de uma transmissão descontrolada são baixas e apontam que sua letalidade está longe daquela causada pela varíola humana.
Especialistas apontam que a varíola dos macacos é muito mais branda e menos contagiosa do que a versão humana da doença.
A seguir, entenda as diferenças entre os dois vírus, que pertencem à mesma família de Orthopoxvirus:
Mortalidade
Quão mortal é a varíola dos macacos?
Essa é a principal pergunta que muitos se fazem ao ouvir falar de uma doença desconhecida. Especialmente se ela compartilha o nome com uma das mais mortíferas da história.
“Felizmente, a varíola dos macacos é muito mais branda do que a versão humana da varíola”, explica Raúl Rivas González, professor de microbiologia da Universidade de Salamanca, na Espanha, à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC).
A varíola humana tinha duas versões: varíola maior e varíola menor. A maior era a mais mortífera — com mortalidade em 30% dos casos de infecção. A menor causava doenças mais leves e raramente levava à morte.
Algo parecido acontece com a varíola dos macacos, embora com taxas de mortalidade mais baixas. Existem duas versões: da África Ocidental e da África Central.
“A da África Ocidental é a mais branda, com mortalidade entre 1% e 10%, e parece ser a que está causando o surto na Europa”, diz Rivas. “A da África Central, por outro lado, é mais virulenta e perigosa e pode matar cerca de 20% dos infectados”, acrescenta.
Jacob Lorenzo Morales, diretor do Instituto Universitário de Doenças Tropicais e Saúde Pública das Ilhas Canárias, na Espanha, explica que os níveis mais altos de letalidade estão concentrados em certas populações.
“Com base nos dados que vimos, a maior parte das mortes ocorre em áreas rurais muito pobres da África e, em geral, em muitas crianças devido ao seu sistema imunológico menos desenvolvido”, disse ele à BBC News Mundo.
Transmissão
Ao contrário do coronavírus ou até mesmo da varíola humana, em que o patógeno é altamente transmissível, a varíola dos macacos é menos contagiosa.
“É um vírus que transmite muito bem entre animais, mas quando ele passa de animal para humano, ele não tem alta capacidade de transmissão”, diz Lorenzo Morales.
As autoridades médicas observam que ainda não há muita informação sobre as possíveis rotas de transmissão entre humanos nos surtos atuais.
Até onde se sabe agora, o vírus é transmitido principalmente por meio de contatos próximos e trocas de fluidos corporais. Muitos dos casos na Europa parecem estar ligados à transmissão sexual.
Mas todas as vias possíveis estão sendo estudadas, como a transmissão indireta por meio de objetos contaminados e até aerossóis.
“A varíola erradicada era transmitida de forma semelhante, mas o contágio entre humanos era muito mais fácil”, lembra Lorenzo Morales, que não descarta que no futuro a varíola possa se tornar mais eficiente na forma como é transmitida.
Raúl Rivas explica que esta varíola dos macacos é um vírus bastante estável e que varia muito pouco. Mas Morales diz que “se trata de um patógeno relativamente novo, que está se acostumando a viver entre nós, e que ainda não é especializado em se multiplicar e nos infectar”.
A varíola humana só podia ser transmitida entre humanos. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, não há evidências científicas de que a varíola possa ser transmitida por insetos ou outros animais.
A origem da varíola é desconhecida. No caso da varíola dos macacos, foi chamada assim porque foi descoberta em colônias de macacos mantidas para pesquisa em 1958.
Sintomas
Em ambas as doenças, o quadro clínico começa de forma semelhante, embora seja um pouco mais suave na varíola dos macacos.
“Como na maioria das infecções, elas começam com febre e também é comum ter desconforto corporal, fadiga, dores musculares e dor de garganta”, descreve Rivas.
Além disso, em ambas as doenças também se desenvolvem as inconfundíveis pústulas cutâneas (bolinhas na pele), que podem deixar cicatrizes visíveis na pele dos pacientes.
“Com o passar dos dias, a varíola do macaco costuma inchar os gânglios linfáticos, tanto cervicais, maxilares, axilares e na virilha. Isso não aconteceu com a varíola humana”, diz Rivas.
O período de incubação da varíola dos macacos é geralmente de 7 a 14 dias, mas pode variar entre 5 e 21 dias.
No caso da varíola, a incubação pode durar entre 7 e 19 dias, embora a duração média tenha sido entre 10 e 14 dias.
Tratamento
A varíola foi erradicada graças a uma campanha histórica de vacinação que pôs fim a milhares de anos de mortes causadas pelo patógeno.
Como o vírus da varíola do macaco tem relação com a varíola humana, a vacina contra a varíola também se mostrou eficaz para ambas as doenças.
Nesse caso, as pessoas com mais de 55 anos que foram vacinadas contra a varíola humana antes de sua erradicação podem ter uma imunidade considerável contra a varíola dos macacos.
Os tratamentos disponíveis são principalmente paliativos para os sintomas. Lorenzo Morales diz não haver tratamento específico para a doença.
“Por se tratar de um patógeno que tem afetado principalmente a África e não os países desenvolvidos, não se investe o suficiente na busca de tratamentos”, diz ele.
No entanto, há uma diferença muito grande entre a varíola dos macacos e a que foi erradicada: o avanço da ciência e do conhecimento nos últimos anos.
Por centenas de anos, a varíola arrasou vidas sem que a humanidade entendesse o que estava acontecendo.
“Essa varíola dos macacos é uma doença que conhecemos bem. Talvez para o público em geral ela seja algo novo, mas ela foi descoberta em 1958. Também é bem estudada porque é muito parecida com a varíola humana”, diz Rivas.