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Acesso ao serviço de saúde ocular contribui para avanço da Agenda 2030 da ONU

Estudo internacional publicado no periódico “The Lancet Planetary Health” faz uma revisão científica e relaciona dados da saúde ocular com saúde e bem-estar, pobreza, educação, desigualdade e desenvolvimento sustentável

A deficiência visual pode comprometer a capacidade produtiva de diversas profissões no mercado de trabalho – Foto: Pixabay

Miopia, astigmatismo, presbiopia e catarata são exemplos de condições que podem afetar a visão e prejudicar diversas atividades como estudo, trabalho e lazer. Apesar de já haver tratamentos ou intervenções cirúrgicas disponíveis, muitas pessoas no Brasil e no mundo não possuem acesso ao serviço de saúde ocular e essa realidade pode afetar o desenvolvimento das sociedades.

Afinal, a melhoria e o aumento do acesso aos serviços de saúde ocular podem impactar positivamente nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda ONU 2030? Um estudo internacional aponta que sim, já que mais do que uma relação com a saúde e o bem-estar, a boa visão pode ajudar na redução da pobreza e das desigualdades e na melhoria da educação e do desenvolvimento sustentável de cidades e comunidades. Ou seja, contribui para que as nações alcancem os objetivos propostos pela ONU aos chefes de Estado e de governo em 2015 e que devem ser cumpridos até 2030.

“A visão é um sentido que está intrínseco na maioria das atividades que realizamos diariamente e a sua perda pode afetar nosso bem-estar imensamente”, explica o professor da FMRP João Marcello Furtado, que é um dos autores do estudo Advancing the Sustainable Development Goals through improving eye health: a scoping review, publicado no periódico The Lancet Planetary Health.

Os resultados foram obtidos após busca em bancos de dados e avaliação de estudos científicos que estavam relacionados com alguns dos ODS. “Uma limitação encontrada é que a grande maioria dos estudos foram feitos em países de alta renda, como Estados Unidos e Europa Ocidental, e por isso seria muito importante que estudos no tema fossem realizados em países como o Brasil para informações mais individualizadas”, explica o professor.

Em relação à pobreza, o estudo concluiu que a deficiência visual pode comprometer a capacidade produtiva de diversas profissões no mercado de trabalho. “Por exemplo, uma costureira com dificuldade de enxergar para perto e sem acesso a óculos vai produzir menos do que poderia. Se ela for autônoma, gerará menos renda. Se for empregada, provavelmente produz menos do que as colegas com melhor visão, e isso aumenta sua chance de ser demitida. E, no caso de estar desempregada, não enxergar bem diminui sua chance de empregabilidade. Sem emprego, diminui o acesso a serviços de saúde e cria-se um círculo de pobreza cada vez mais difícil de ser quebrado”, afirma.

Já no ODS de melhoria na educação, os pesquisadores alertam que os estudantes com erros refrativos, como miopia, astigmatismo e hipermetropia, que não possuem acesso a óculos podem ter pior desempenho acadêmico. “Uma criança míope, que não tem recursos para comprar óculos, possui um desempenho acadêmico pior do que poderia. Se estivesse com os óculos no rosto, teria melhores notas na escola e maior alcance acadêmico na vida adulta. Isso pode fazer uma diferença enorme na sua renda, e na da sua família”, conta.

Outro ponto listado é a desigualdade que é afetada pela qualidade e acesso ao serviço de saúde ocular, pois estudos apontam que adultos deficientes visuais possuem uma renda menor do que um adulto com boa visão da mesma idade. Além disso, a baixa visão está relacionada com acidentes de trânsito e os números podem ser reduzidos com aumento da disponibilidade de óculos ou cirurgia de catarata, contribuindo para os ODS de cidades e comunidades sustentáveis.

Para Furtado, o artigo evidencia uma melhora integral para o indivíduo e para a sociedade. “A revisão nos mostra que, além do benefício direto para quem sofre a ação, o investimento em saúde ocular aumenta as possibilidades de uma pessoa atingir um maior nível educacional, maior produtividade, renda e qualidade de vida. Isto, se realizado em larga escala, muda um país”, conclui.

Além do professor João Marcello Furtado, a pesquisa contou com pesquisadores de todo o mundo que integram o Lancet Global Health Commission on Global Eye Health. O grupo que Furtado integra é interdisciplinar de 73 acadêmicos e líderes de programas nacionais e profissionais de mais de 25 países.

Mais informações: furtadojm@gmail.com, com o professor João Marcello.