Oficinas para conversas, desabafos e trocas de experiências. Cartas para o registro das vivências. É com essas ferramentas que o Grupo de Saúde, Educação e Cidadania (SEC), da Fiocruz Minas, vem trabalhando no projeto Reconectando Vidas, que tem por objetivo principal fortalecer e qualificar o acolhimento a Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA). Para isso, a equipe responsável pelo projeto entende que é fundamental compreender como se dá a trajetória dessas pessoas dentro do sistema de saúde, desde o momento em que buscam o diagnóstico, passando pela fase de adesão ao tratamento e à continuidade dele.
Para alcançar essa compreensão, o grupo de pesquisa criou espaços de escuta qualificada, possibilitando às pessoas que vivem com HIV/Aids relatar como são acolhidas nos serviços de saúde, permitindo aos pesquisadores identificar os pontos fortes e, principalmente, os aspectos que precisam ser aprimorados. Entre os espaços criados estão um coletivo, materializado em oficinas em que PVHA podem dialogar e falar sobre suas vivências; e um individual, em que elas são convidadas a escreverem uma carta, contando sobre a experiência com o HIV/AIDS, desde o momento em que receberam o diagnóstico da doença.
“Essa possibilidade de participação em diferentes espaços permite aos/às participantes diferentes formas de expressão, o que é extremamente importante em pesquisas com temas que mobilizam tão intimamente a história de vida das pessoas e ainda são tão permeados por estigmas, preconceitos e julgamentos de valores”, destaca a pesquisadora Rose Ferraz Carmo, que integra do SEC, da Fiocruz Minas.
Desde que foi iniciado, há cerca de um ano, o projeto já promoveu duas oficinas, que contou com a participação de cinco pessoas em cada uma delas e tiveram duração de quatro horas. “Nossa previsão era de que cada encontro durasse duas horas, mas os debates foram tão intensos e produtivos, que duraram o dobro do tempo”, afirma Rose.
Além disso, cinco cartas já foram escritas e, em breve, serão lidas pela equipe responsável pelo projeto em uma sessão de leitura conjunta. “As cartas podem ser endereçadas a pessoas, animais de estimação, artistas, profissionais de saúde, familiares, o próprio vírus… A proposta é que, posteriormente, essas correspondências sejam compiladas em uma produção literária em coautoria com os\ as participantes”, explica Rose.
Como desdobramento do projeto, também está em execução um documentário que terá como elemento central a adesão e o seguimento do tratamento. A previsão é que seja lançado ainda este ano. Outro desdobramento, em fase de elaboração, é um projeto voltado para os profissionais de saúde, tendo como objetivo central a qualificação do acolhimento à PVHA.
Para a pesquisadora Zélia Profeta, coordenadora do grupo de Saúde, Educação e Cidadania, o projeto Reconectando Vidas acontece em um momento importante, já que, nos últimos anos, houve uma desarticulação dos movimentos sociais voltados para esse tema e, dessa forma, PVHA perderam espaços para compartilhar suas vivências e refletir sobre as demandas em comum. Perdeu-se também a capacidade de articulação para reivindicar direitos e melhorias na prestação dos serviços. “Assim, ao atuar na mobilização de PVHA, o projeto poderá contribuir também para o avanço das políticas públicas de saúde relacionadas ao HIV/Aids”, afirma a coordenadora. O projeto Reconectando Vidas foi viabilizado, até o momento, com recursos de emendas impositivas, destinada pelo mandato do deputado federal Patrus Ananias (PT-MG), por meio de chamada pública.