A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) apresentam, na próxima quinta-feira (23/9), os resultados de uma pesquisa que investigou os impactos da pandemia de Covid-19 na agricultura familiar. Os resultados podem contribuir para a formulação de políticas e para o fortalecimento das organizações de agricultores familiares. Para dar visibilidade ao relatório da pesquisa e promover o diálogo sobre suas conclusões, a FAO, a ASA e a Fiocruz Brasília realizam o webinário Um olhar sobre os desafios enfrentados pela agricultura familiar do Semiárido Brasileiro no contexto da Covid-19, com transmissão ao vivo pelo canal da ASA no YouTube e pelo Twitter da FAO Brasil, às 10h.
Os dados da pesquisa serão debatidos com diferentes atores estratégicos e parceiros, com vistas a promover iniciativas de enfrentamento à pandemia no meio rural, a exemplo de uma ação de vigilância popular em saúde realizada pela Asa e a Fiocruz Brasília. Essa iniciativa consistiu em processos formativos com movimentos sociais e governos para a promoção de territórios saudáveis e sustentáveis na região do semiárido brasileiro, discutindo os desafios do retorno a campo de forma segura e a construção de estratégias de enfrentamento da crise, incluindo o fortalecimento das relações comunitárias com o Sistema Único de Saúde (SUS). Pela Fiocruz Brasília, participam do webinário a vice-diretora, Denise Oliveira e Silva; o coordenador do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT), Jorge Machado; e o coordenador de Integração Estratégica, Wagner Martins.
Pesquisa
A FAO lançou uma consulta online aos agricultores familiares e, em paralelo, colaborou com organizações de agricultores familiares para a coleta de dados por meio de uma metodologia de amostragem rigorosa. No Brasil, em colaboração com a ASA, a pesquisa foi direcionada aos beneficiários do Programa P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas), criado com o intuito de ampliar o estoque de água que as famílias, comunidades rurais e populações tradicionais precisam para seus plantios e criação de animais. Desde 2007, o P1+2 atua em nove estados do semiárido brasileiro: Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
No caso da pesquisa no Brasil, os dados foram coletados pessoalmente ou, em alguns casos, por telefone; posteriormente, a equipe da ASA lançou os dados na internet. Desenhada para obter uma amostra representativa da população beneficiária do Programa, a estratégia de amostragem teve três etapas. Na primeira, um subconjunto de organizações de produtores foi selecionado aleatoriamente em cada estado. Depois, comunidades abrangidas por cada organização foram selecionadas aleatoriamente. Na última etapa, uma amostra de beneficiários foi selecionada aleatoriamente dentro de cada comunidade. De forma proporcional ao tamanho de cada estado, um total de 1.865 entrevistas foram realizadas.
Além de conhecer os efeitos da pandemia sobre os recursos e as atividades dos beneficiários do P1+2, a pesquisa teve como objetivo fortalecer as capacidades das organizações de agricultores familiares para coletar dados sobre seus membros. As evidências concretas assim obtidas pelas organizações podem ser aplicadas no desenvolvimento de suas próprias soluções, bem como na formulação de propostas de políticas para governos em diferentes níveis.
Impactos da Covid-19
A disseminação da Covid-19 acentuou dificuldades estruturais e desigualdades já existentes nos sistemas alimentares. Questões como o fechamento de feiras e outros canais de comercialização levaram a uma redução da renda familiar, intensificando ainda mais os desafios para a população do campo. Nesse contexto, as organizações de agricultores familiares tiveram um papel importante na criação de redes solidárias, no acesso a informações de prevenção e cuidado, e nas alternativas de logística e distribuição de alimentos, entre outras estratégias.