O governo britânico deseja ampliar sua parceria científica com a Fiocruz, principalmente em campos como o sequenciamento genômico, declarou a ministra conselheira da Embaixada do Reino Unido no Brasil, Melanie Hopkins, durante reunião com a presidente Nísia Trindade Lima, nesta quinta-feira (12/8). Há um mês no cargo, a ministra visitou a Fundação acompanhada pelo cônsul geral no Rio de Janeiro, Simon Wood.
“Foi muito importante vir aqui e nos sentarmos presencialmente com estes cientistas. Os primeiros passos na parceria [sobre a vacina] foram dados durante o período de distanciamento, no que foi um trabalho histórico. Fico feliz em saber que vamos continuar a trabalhar juntos”, disse Melanie Hopkins, mostrando vontade de estabelecer parcerias com as várias unidades da Fundação pelo país. “O fato de este ser o meu primeiro evento externo no Brasil demonstra a importância da Fiocruz”.
Com a ajuda de outros integrantes da Fundação, Nísia apresentou uma visão geral de como a Fiocruz tem atuado no combate à pandemia, assim como sua atuação da Antártica à África, passando por seu papel educacional. Ela destacou os desafios agravados pela pandemia e se mostrou preocupada com a assimetria no acesso à vacina no mundo. “Fico orgulhosa quando dizem que produzimos uma vacina mais barata. Temos conversado com a Organização Mundial da Saúde para que, uma vez superada a fase crítica no Brasil, possamos dar uma contribuição em nível internacional”, disse a presidente da Fiocruz.
Na reunião, Marilda Siqueira destacou a contribuição de instituições e pesquisadores britânicos no desenvolvimento do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo, por ela chefiado, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Parte da Rede Genômica da Fiocruz, a unidade recebe amostras de outros países, como Haiti e Honduras, além de também participar do treinamento de pesquisadores estrangeiros.
Em meio à pandemia, uma das áreas em que a parceria entre a Fundação e o Reino Unido deverá ser ampliada é no sequenciamento genômico, por meio da New Variant Assessment Platform (NVAP). A plataforma do governo britânico procura apoiar outros países no fortalecimento de sua capacidade de sequenciamento genômico com base na infraestrutura existente ou realizando o sequenciamento e a análise de amostras no Reino Unido.
Sue Ann Costa Clemens, coordenadora dos centros de pesquisa da vacina AstraZeneca/Oxford no Brasil, contou que trazer o estudo sobre o imunizante contra a Covid-19 para o Brasil foi “a faísca” que possibilitou um processo que levou à produção e transferência de tecnologia para a Fiocruz. Mauricio Zuma, diretor do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), por sua vez, destacou que a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford foi escolhida por ser a que mais se mostrou compatível às capacidades e instalações da Fundação, além de oferecer a possibilidade de transferência de tecnologia e de constituir uma plataforma que pode ser utilizada para a produção de outras vacinas.
Já Cristiani Vieira Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic/Fiocruz), lembrou o papel dos programas destinados a profissionais de saúde. Somente sobre a Covid-19 foram desenvolvidos dez cursos que já treinaram mais de 370 mil pessoas. Participaram ainda do encontro David Brown, pesquisador visitante e ex-diretor da Divisão de Referência de Vírus da Saúde Pública do Reino Unido; Valber Frutuoso, assessor de Relações Institucionais da Presidência; e Ilka Vilardo, assessora do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris).
O evento incluiu ainda uma visita ao Complexo Tecnológico de Vacinas (CTV), onde a ministra e o cônsul viram a produção da vacina contra Covid-19, acompanhados por Carla França, assessora da Vice-Diretoria de Produção e chefe da Seção de Embalagem e Rotulagem de Reativos; e por Daniel Godoy, chefe de gabinete de Bio-Manguinhos/Fiocruz.
“A parceria com Oxford é importante para o Brasil, mas também é para o Reino Unido. É uma satisfação ver as áreas de cooperação e que podemos ampliá-las com a NVAP”, disse a ministra. “Sempre dissemos que o Brasil tem capacidade para ser uma superpotência em ciência e estamos com vocês nisso”.