Método de identificação da leishmaniose desenvolvido no Inpa

 Um método de identificação da leishmaniose, desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, promete dinamizar o tratamento da doença e tornar mais precisos os procedimentos clínicos adotados pelos médicos.

O processo faz a diferenciação entre os parasitas Leishmania guyanensis e Leishmania braziliensis para especificar por qual deles o indivíduo foi contaminado.

“Essas são as duas principais espécies causadoras de leishmaniose tegumentar, doença que atinge indivíduos em todo o país, especialmente na região Norte”, disse Alexander Sibajev, pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Ciências da Saúde (CPCS) do Inpa, à Agência FAPESP. “O novo método permite fazer um diagnóstico preciso para incluir condutas terapêuticas dirigidas ao tipo de parasita que causou a doença.”

A leishmaniose é transmitida pela picada de flebotomíneos, hospedeiros do parasita leishmânia. O inseto se contamina ao sugar o sangue de mamíferos infectados e, ao picar uma pessoa sadia, o flebótomo injeta secreção salivar com as leishmânias. A forma tegumentar da doença atinge as mucosas do corpo e causa lesões na pele, enquanto a leishmaniose visceral ataca o fígado humano e pode levar o indivíduo à morte.

Sibajev explica que, por meio do código genético dos parasitas, o novo método é capaz de identificar a espécie responsável pela contaminação com uma precisão de mais de 90%. “O processo fundamenta-se na técnica de PCR, a reação em cadeia da enzima polimerase. O DNA da Leishmania guyanensis é extraído do sangue do indivíduo infectado para que seja feita a diferenciação das outras espécies do parasita”, conta.

Até então, a diferenciação entre a Leishmania guyanensis e a Leishmania braziliensis não era realizada por diagnóstico molecular. “O que se analisava eram os sintomas e a evolução clínica do paciente, para só assim poder suspeitar da espécie de leishmânia que o infectou”, explica Sibajev.

Segundo o pesquisador, o grande interesse em identificar a Leishmania guyanensis se justifica pelo fato de que mais de 80% dos casos da doença na região Norte do país têm esse protozoário como agente causador. “A partir desse processo de diferenciação, estamos idealizando um kit de diagnóstico em parceria com a indústria farmacêutica”, antecipa.

Sibajev alerta que o parasita não fica restrito somente às regiões Norte e Nordeste. A Leishmania braziliensis, por exemplo, apresenta altos índices de prevalência no Sudeste.

O projeto teve a orientação da pesquisadora Antônia Franco Ferreira e contou com a participação da Universidade Federal do Amazonas e do Centro de Pesquisas Leônidas e Maria Deane, da Fundação Oswaldo Cruz.

Outro estudo de identificação da Leishmania braziliensis foi realizado em 2003, por pesquisadores do Instituto de Biociências (IB), da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa também gerou uma metodologia que vem rendendo bons resultados na aplicação de quimioterápicos no tratamento da doença.

Segundo Lucile Maria Floeter-Winter, professora do Departamento de Fisiologia do IB, o método pode ser utilizado para identificar hospedeiros vertebrados de Leishmania braziliensis e quantificar o número de parasitas no organismo do paciente, resultando em aplicações para a epidemiologia da doença.

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