A vacinação contra a Covid-19 foi tema do Ceensp, realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), na primeira semana de maio. Seu objetivo foi refletir sobre as atitudes e opiniões a respeito da vacina. A atividade contou com a mediação e coordenação do pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde (Demqs/ENSP) Luiz Antônio Bastos Camacho, que, em sua fala, ressaltou a importância de debater dois lados que aparecem no discusão a respeito da vacina. “De um lado a vacina como a melhor alternativa para o retorno à normalidade, e do outro uma exaltação e negação sobre a rapidez da criação da vacina”, explicou o pesquisador.
O professor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Kenneth Rochel de Camargo Junior falou um pouco sobre o Anticientificismo, Negacionismo e Movimento Antivacina. Segundo ele, os movimentos vêm antes da Covid-19, mas eles persistem de forma diferente, neste momento, devido a fatores que atribuiu às estratégias do negacionismo, como identificação das teorias de conspirações, uso de falsos experts, seletividade focalizando em artigos isolados que contrariam o consenso científico, dentre outros.
Para o professor, a “vacina é vítima do seu próprio sucesso”, além de concordar que a internet amplificou o movimento antivacina, com diversas campanhas, uma delas mostrando que não existe vacina segura. Além disso, o professor salientou que esses movimentos usam argumentos estereotipados, argumento de autoridades, dentre outros, o que dá uma força ainda maior para eles.
De acordo com ele, o resultado de todo esse movimento é o aumento das desconfianças contra as vacinas nos países. “As mesmas falácias do movimento antivacina se repetem na Covid-19, com a adição de algumas observações que permeiam o tema da coronavírus, por exemplo, o desenvolvimento rápido da vacina e a insuficiência de testagem – fatos alegados por pessoas que seguem o movimento antivacina.
O resultado final disso, segundo o professor, é o baixo número de aceitação das pessoas pela vacina da Covid-19, fato questionado pelo professor. “Vacinação é recurso de saúde pública, que precisa de avanço para sanar a ameaça real”, enfatizou.
Muitas dessas informações são disseminadas por meio de algoritmos da internet, o que o pesquisador chama de bolhas, que, segundo ele, apresenta mais desinformações para as pessoas que vêm sendo expostas.
E, continuando no tema da fake news e desinformação, a pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) Luisa Medeiros Massarani falou sobre a infodemia e a desinformação perante a vacina. A pesquisadora apresentou uma pesquisa intitulada “O debate sobre vacinas em redes sociais: uma análise exploratória dos links com maior engajamento”, que monitorou as informações de vacinas referentes a maio de 2018 a maio de 2019.
Com a metodologia já pronta, a pesquisadora e sua equipe usaram o mesmo método, porém voltado para a busca sobre informações da vacina contra a Covid-19, o que mostrou resultados interessantes. “Usamos uma ferramenta de monitoramento que identifica os 100 links de maiores informações nas redes sociais. Além de uma análise com cinco categorias, com a ideia de comparar um período anterior”, explicou a professora sobre o método utilizado.
A pesquisadora mostrou resultados interessantes, um deles, por exemplo, é referente ao crescimento de busca da palavra vacina em relação à pesquisa anterior, com uma concentração maior nos meses de maio e julho.
Outros pontos também foram analisados e apresentados pela pesquisadora, como os veículos de informação onde essas buscam foram realizadas. Segundo ela, dentre 100 buscas, 41 saíram de veículos profissionais de jornalismo, um aumento se comparado a anos anteriores, segundo ela. Já nas buscas por vacina contra a Covid-19, as mais buscadas foram as vacinas da Fiocruz – Astrazeneca e do Instituto Butantan. Entre os conteúdos de desinformação, fake news, a maior busca apareceu para a vacina Coronavac.
O papel da hesitação da desinformação foi o tema da fala da pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Paula Mendes Luz, que falou da psicologia da tomada de decisão sobre a vacinação. Um resultado mostrado pela pesquisadora mostrou que o Brasil não é o maior país em hesitação sobre a vacina. “Perdemos para os Estados Unidos. Porém, com o processo de vacinação por lá, esse número cai, na prática o número de vacinados é menor dos que disseram que iriam se vacinar, ” salientou a pesquisadora, analisando que a desinformação vacinal nos EUA se mostra bem presente nos canais americanos, o que afasta os americanos da vacina.
Segundo a pesquisadora, o que torna o processo de decisão de vacinação mais complicado é a “realidade de que as vacinas apresentam riscos, mas as pessoas não buscam os riscos reais. ”
A pesquisadora apresentou os vieses que apresentam em situações como essas. Segundo ela, o viés otimista as pessoas preferem, elas dão preferência por um evento futuro gerar resultados positivos. Já o viés de omissão, segundo a pesquisadora, a pessoa tende a preferir e dar ênfase ao dano que aquilo em debate pode causar. O viés de confirmação refere-se à observação de posições, crenças iniciais fortes que são resistentes a mudanças, as chamadas bolhas, o que ela alerta vir acontecendo na internet ultimamente. “Esse viés se confirma com uma pesquisa realizada anteriormente, a qual mostra que as pessoas expostas a alguns conteúdos tinham maior aceitação com aqueles que tinham mais a ver com as suas ideologias pessoais e crenças”, ressaltou.
Como promover a aceitação vacinal, evitar tentativas de desmascarar mitos, enfatizar o motivo dos efeitos da vacina, diálogos entre profissionais de saúde, dentre outros, são alguns desafios para a saúde pública citados pela pesquisadora.