Crianças com comorbidades apresentam maior risco de mortalidade pela covid-19.
De acordo com Brian Sousa, crianças que moram em cidades com maior desenvolvimento morrem quase 75% menos do que crianças que moram em cidades menos desenvolvidas.
Crianças com comorbidades e hospitalizadas com covid-19 têm maior chance de evolução para desfecho grave da infecção. O risco de mortalidade aumenta ainda mais quando os pacientes pediátricos integram contextos étnicos, demográficos e socioeconômicos desfavoráveis, aponta estudo realizado por pesquisadores da USP. A pesquisa utilizou banco de dados disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Foram avaliados cerca de 6 mil pacientes menores de 20 anos de idade com covid-19. O estudo focou nos fatores responsáveis por aumentar as chances de mortalidade pediátrica.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Brian Sousa, pesquisador do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP e autor do estudo, explica que os pacientes com comorbidades apresentam maior risco de mortalidade: “Pacientes com mais de uma doença crônica têm dez vezes mais risco de morte do que crianças sem qualquer comorbidade. Pacientes com apenas uma comorbidade têm quatro vezes mais chances de evolução para óbito quando comparados a pessoas saudáveis”. Entre as principais comorbidades figuram a diabete, as doenças imunológicas, renais, pulmonares e cardiovasculares.
Conforme o pesquisador, os fatores étnicos, socioeconômicos e sociodemográficos também foram considerados na avaliação. A constatação foi que, quando comparadas às crianças brancas, os indígenas têm seis vezes mais risco de morte; crianças com ascendência asiática morrem três vezes mais; e crianças pardas vão a óbito duas vezes mais. Pacientes pediátricos das regiões Norte e Nordeste têm mortalidade quase 3,5 vezes maior do que crianças oriundas de localidades com maiores índices de desenvolvimento. “Crianças que moram em cidades com maior desenvolvimento morrem quase 75% menos do que crianças que moram em cidades menos desenvolvidas. Todos esses fatores étnicos, socioeconômicos e sociodemográficos, de regionalidade, interferem muito na mortalidade infantil em covid-19.”
Após a análise dos dados, Sousa defende que o status de pandemia deveria ser atualizado para sindemia, porque não é só a covid-19 a responsável pela mortalidade. Uma sindemia é o sinergismo de fatores que levam ao adoecimento, como a interação de doenças crônicas, a covid-19 e as características étnicas e socioeconômicas.
O médico informa que cada uma das condições podem ter desfechos graves, mas que, quando somadas, potencializam o risco de mortalidade: “Existe um sinergismo entre a covid-19 e a presença de doenças crônicas. A covid-19 sozinha já eleva a mortalidade. As doenças crônicas também levam à mortalidade. Juntas se potencializam e levam a desfechos negativos piores do que se fossem condições separadas. Nosso estudo mostra isso claramente. As crianças que têm doenças crônicas têm uma mortalidade pior por covid-19”. E quando as condições são adicionadas à desigualdade socioeconômica há incremento do potencial de mortalidade em crianças: “Essas duas condições se agrupam e se potencializam em crianças ou em contextos de desigualdade socioeconômica. Esses fatores socioeconômicos têm que ser levados em conta nas estratégias de enfrentamento da doença”.
O pesquisador ainda frisa que, com o agravamento da pandemia em 2021 e o colapso do Sistema Único de Saúde, a população pobre é mais impactada do que a população mais rica: “Essa criança em contexto socioeconômico desfavorável tem menos acesso a hospital, a internação e tratamento. Os desfechos são invariavelmente piores. Com o prolongamento da pandemia e o agravamento das consequências econômicas, aumentam-se as desigualdades socioeconômicas no País, o que amplifica esses efeitos da pandemia com desfechos negativos”.
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