O Instituto de Imunobiológicos de Manguinhos (Biomanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, começou 2006 com boas notícias para a saúde brasileira. O instituto anunciou que começará a produzir no Brasil, a partir de 2008, medicamentos contra Aids, hepatite e anemia para distribuí-los ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O primeiro é a eritropoetina alfa humana recombinante (EPO), utilizado em tratamentos de quimioterapia, anemia e Aids. O segundo é o interferon alfa humano recombinante (INF), que auxilia no tratamento de hepatites virais e alguns tipos de câncer.
Atualmente, os dois medicamentos são importados de Cuba e rotulados na Fiocruz. A produção nacional se deve a um processo de transferência de tecnologia de duas instituições científicas cubanas, o Centro de Imunologia Molecular (CIM) e o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB), iniciado em 2004.
Devido aos altos custos, o Brasil importa uma pequena quantidade desses biofármacos e a distribuição acaba sendo contingenciada. No caso da hepatite C, por exemplo, os pacientes precisam entrar na Justiça para ter o direito de receber o medicamento, disse Nadia Batoréu, gerente do Programa de Biofármacos de Biomanguinhos, à Agência FAPESP
Para tentar reverter esse quadro com a produção nacional, Biomanguinhos abriu, no começo de 2006, um edital público para a construção do prédio de Protótipos, Biofármacos e Reativos. O espaço abrigará uma ampla infra-estrutura para a fabricação de remédios.
A produção completa dos dois medicamentos iniciais deverá ocorrer no fim de 2008, quando a planta industrial estiver pronta e validada, disse Nadia. Com o prédio construído e todos os equipamentos instalados, a meta é tornar a produção 100% nacional. A previsão é de sejam produzidos inicialmente, por ano, 7,5 milhões de frascos do EPO e do INF combinados.
Os dois produtos fazem parte de uma lista de 226 medicamentos considerados excepcionais pelo Ministério da Saúde. Hoje, todos são importados a um custo bastante elevado. O Brasil gasta em torno de R$ 1 bilhão por ano para importar esses 226 medicamentos e, do total, 20% são destinados ao EPO e ao INF, conta a gerente do Programa de Biofármacos de Biomanguinhos.
Com a autonomia nacional na produção, a idéia é garantir à população maior acesso a esses medicamentos e diminuir os gastos com importação. Somente com a introdução dessas tecnologias de produção no país o governo poderá economizar pelo menos R$ 40 milhões anuais. A partir de 2008, a economia poderá ser ainda maior, diz Nádia.