Novas análises em torno de dados obtidos por inquéritos nacionais de saúde ganham suplemento da Revista de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, aprofundando a compreensão sobre as doenças crônicas e sua relação com as desigualdades sociais no Brasil.
O suplemento ‘Doenças crônicas não transmissíveis e inquéritos populacionais’, coordenado pelas editoras Débora Malta, da Universidade Federal de Minas Gerais, e Célia Landmann Szwarcwald, do Icict/Fiocruz, traz artigos sobre dor na coluna, fatores associados ao diagnóstico autorreferido de diabetes, depressão, doenças ocupacionais e outras.
As análises trazem aprofundamentos ou novos aspectos sobre as condições gerais de saúde da população brasileira, a partir de dois inquéritos: Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013) e a Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL).
Para a pesquisadora Célia Landmann Szwarcwald, do Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict), os artigos aprofundam a investigação em torno das iniquidades em saúde. “Dos 11 estudos realizados com os dados da PNS, três destacaram as desigualdades sociais na utilização dos serviços de saúde”, afirma.
Dentre os dados divulgados pelos novos artigos, alguns tratam de observar os processos associados às doenças crônicas, como as diferenças sociais. O estudo de Sheila Stopa e colaboradores encontrou que os indivíduos que procuraram os serviços de saúde nas duas últimas semanas ao estudo, 95% residem nas regiões sul e sudeste e, ainda, o chefe de família possui nível mais elevado de instrução.
O artigo de Débora Malta mostra os fatores associados ao uso do serviços de saúde, e alguns deles foram as desigualdades sociais. No mesmo sentido, Gulnar Azevedo observa que as ações de detecção precoce para o câncer de mama fazem diferença diante de classe e renda. Mulheres que possuem planos de saúde privado utilizaram mais os serviços.
A edição do suplemento também contou com Euclides Castilho e Moisés Goldbaum. O periódico está disponível em acesso aberto e teve seu lançamento em 01 de junho, às 13h, na Escola de Enfermagem da UFMG.
Indicadores revelam desigualdades entre estados de maior e menor renda
Célia Landmann Szwarcwald, pesquisadora do Lis/Icict/Fiocruz. Foto: Raquel Portugal – Icict/Fiocruz
No suplemento, Celia Landmann Szwarcwald e equipe apresentam o artigo Desigualdades na esperança de vida saudável por Unidade da Federação. É um desdobramento de estudo anterior, que havia analisado o indicador apenas por região.
De acordo com o estudo, entre estados com maior renda, como São Paulo, e estados com menores indicadores sociais, como Roraima, há diferença de sete anos para o indicador expectativa de vida saudável.
Para essa análise, foram utilizados vários indicadores de vida saudável, como a autoavaliação em saúde, diagnóstico de doença crônica sem ocorrência de limitações à vida diária e um questionário com perguntas sobre locomoção, visão, audição e outros itens que informam uma dimensão de saúde para criar um indicador do que é saudável.
“Todos os indicadores apontam desigualdades, sendo que a maior ocorre para autoavaliação de saúde”, afirma a primeira autora do estudo, Szwarcwald. Em alguns casos, mulheres e idosos demonstram ser mais vulneráveis às conseqüências de doenças crônicas.
“A gente vê que há diferenças na proporção de idosos por estado em condição não saudável. Roraima, por exemplo, apresenta 23,9%. Já em Santa Catarina, 7%, ou seja, é grande a disparidade”, detalha a pesquisadora. Para limitações na vida diária, os resultados são mais homogêneos entre os estados.
No caso das doenças crônicas que causam limitações, há uma maior discrepância. No caso de Roraima, chega a 27% em comparação a 7% para o estado de São Paulo. O artigo também analisa a razão de desigualdade, apontando diferenças materiais entre os indicadores.
O suplemento ‘Doenças crônicas não transmissíveis e inquéritos populacionais’ está disponível aqui.