Nesta quarta-feira (5/7) a Fiocruz Pernambuco – instituição que coordena o teste da primeira vacina brasileira contra a dengue, no estado – começa a recrutar voluntários que moram no bairro da Várzea, zona oeste de Recife. O trabalho nessa comunidade será focado, principalmente, nas crianças e adolescentes com idade entre 2 e 17 anos. Desenvolvida pelo Instituto Butantan, a vacina já vem sendo testada com moradores do bairro vizinho, Engenho do Meio. Podem participar pessoas saudáveis, que tiveram ou não dengue. O objetivo dessa etapa de teste, a terceira, é comprovar a eficácia da vacina.
A primeira ação na Várzea será realizada no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Pessoas atendidas na Unidade de Saúde da Família Campo do Banco serão as primeiras da comunidade a receberem informações sobre o teste. Mas assim como vem ocorrendo no Engenho do Meio, uma equipe formada por enfermeiras também irá fazer visitas de casa em casa, passar informações sobre o teste e convidar as famílias a participarem. Aceitando, será agendado exame físico e entrevista com o candidato na Fiocruz Pernambuco. Apto, ele será vacinado.
Os participantes serão transportados para a Fiocruz e receberão certificado médico para cada dia que precisarem vir ao Centro de Pesquisas. Os vacinados serão acompanhados por uma equipe de saúde, por cinco anos, para verificar a duração da proteção oferecida pela vacina, que é feita de vírus vivo enfraquecido e protege contra os quatro tipos de vírus dengue.
Essa etapa de testes clínicos envolverá o total de 17 mil voluntários, recrutados por 14 instituições de pesquisa nas cinco regiões do Brasil, e tem por objetivo comprovar a eficácia do imunizante. Do total de participantes, 2/3 receberão a vacina e 1/3, placebo, uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem efeito. A finalidade é descobrir, a partir de exames, se quem tomou o imunizante ficou protegido e quem tomou o placebo contraiu ou não a doença.
Nas etapas anteriores de teste, a vacina foi aplicada em 900 pessoas: 600 na primeira fase de testes clínicos, realizada nos Estados Unidos pelos Institutos Nacionais da Saúde (NIH, na sigla em inglês), e 300 na segunda etapa, realizada na cidade de São Paulo em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (através do Hospital das Clínicas e do Instituto da Criança) e com o Instituto Adolfo Lutz.
Histórico
Em 2008, o Instituto Butantan firmou parceria de colaboração com o NIH, passando a desenvolver, no Brasil, uma vacina similar a uma das estudadas pelo órgão americano, composta pelos quatro tipos de vírus da dengue.
Um dos grandes avanços do Butantan no desenvolvimento desse produto foi a formulação liofilizada (em pó), que garante a estabilidade necessária para manter os vírus vivos em temperaturas não tão frias, permitindo seu armazenamento em sistemas de refrigeração comum, como geladeiras, além de aumentar o período de validade da vacina (um ano).
Ter a vacina desenvolvida e produzida por uma empresa pública nacional é uma vantagem competitiva para o Brasil, pois garante a disponibilidade do produto, permitindo a autossuficiência produtiva, além de garantir preços mais acessíveis. Após os testes a vacina será ofertada, gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).