Em encontro na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Genebra nesta quarta-feira (19/4), a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, afirmou que é necessário “pensar em populações negligenciadas, e não apenas em doenças negligenciadas”. Segundo Nísia, “o setor sanitário precisa atuar em coordenação com outros setores, garantindo acesso gratuito a serviços de qualidade, que levem à promoção e à educação da saúde”.
Em suas apresentações, Nísia Trindade Lima ressaltou os determinantes sociais e ambientais da saúde (Imagem: reprodução de vídeo)A declaração foi feita no Encontro de Parceiros Globais da OMS sobre Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs). Colaborar. Acelerar. Eliminar, que reuniu dezenas de dirigentes internacionais, diplomatas, pesquisadores, representantes da indústria, de Organizações Não Governamentais (ONGs) e membros de todos os setores envolvidos no tema de doenças negligenciadas.
Nísia compôs dois painéis do evento. Na mesa de abertura, afirmou que “temos que pensar a relação entre o setor público e o da saúde como um jogo em que todos ganham. Colaboramos em muitas áreas em termos de pesquisa para inovação, e somente assim conseguiremos atingir o objetivo deste encontro de ‘colaborar, acelerar e eliminar’ as doenças negligenciadas”.
Além de Nísia, integraram o painel, entre outros, o empresário e filantropo Bill Gates, o ex-secretário-geral da ONU Koffi Annan e diretora-geral da OMS, Margaret Chan. Chan saudou Nísia como “a primeira mulher a presidir a importante Fundação Oswaldo Cruz”.
Em sua segunda participação, sobre a importância do controle de vetores para combater doenças negligenciadas, Nísia afirmou que “necessário sempre lembrar dos determinantes sociais e ambientais da saúde. O Brasil tem surtos de dengue há 30 anos, e isso se relaciona diretamente à rápida urbanização no país sem as condições de saneamento necessárias.”. Segundo ela, para resolver essa situação, “como em outros problemas complexo, não há só uma solução. Temos que trabalhar com saneamento, o aspecto mais importante, e com novas tecnologias para controle de vetores, como a wolbachia, que a Fiocruz desenvolve em parceria com a Fundação Gates”.
Além desta reunião, Nísia se encontrou com diretores de departamentos e programas da OMS sobre doenças negligenciadas. Estiveram em pauta a importância do Brasil na saúde global, a inovação para doenças negligenciadas e a importância para a saúde de programas de educação e acesso aberto ao conhecimento.
O encontro marcou também o lançamento do Quarto Relatório da OMS sobre Doenças Negligenciadas, que marca dez anos de esforços sistemáticos da organização internacional para combater DTNs. A OMS afirma que, graças a eles, um bilhão de pessoas que estariam de outra forma desassistidas receberam tratamento só no ano de 2015.
Segundo a OMS, o documento demonstra como “forte apoio político, doações generosas de remédio e melhorias em condições de vida levaram a expansão sustentável de programas de controle de doenças em países nos quais são mais comuns. Desde 2007, quando um grupo de parceiros globais se reuniu para enfrentar as DTNs em conjunto, um grande número de parceiros locais e internacionais trabalharam com ministérios da saúde em países endêmicos para garantir remédios de qualidade comprovada, e levar atendimentos e serviços de maneira continuada a populações”.
A diretora-geral da OMS comemorou os resultados presentes no relatório. “A OMS observou progresso sem precedentes para aniquilar antigas moléstias como a doença do sono [tripanossomíase humana africana] e a elefantíase”, disse Chan. “Nos últimos dez anos, milhões de pessoas foram salvas da pobreza e da desigualdade, graças a uma das mais eficazes parcerias globais na saúde pública moderna”.
As gravações dos dois painéis de que Nísia participou, assim como as outras discussões do encontro, podem ser assistidas aqui. Confira também a entrevista que Nísia concedeu à ONU.