Com o objetivo de debater novas propostas metodológicas na área das doenças crônicas, em especial na área da epidemiologia do envelhecimento, a pesquisadora do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos Inês Echenique Mattos e seus orientandos de doutorado da ENSP e do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul apresentarão trabalhos no World Congress of Epidemiology, que acontecerá no período de 7 a 11 de agosto em Edimburgo, Escócia. Organizado pela Associação Internacional de Epidemiologia, o evento é realizado a cada três anos, e sua última edição aconteceu na Cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. De acordo com Inês, o grupo atua nas linhas de pesquisa de doenças crônicas e de efeitos de exposições ambientais no ciclo de vida.
O grupo trabalha também com estudos na área da epidemiologia do envelhecimento e do câncer com diferentes abordagens. Em 2010, o estudo coordenado por Inês com idosos institucionalizados foi contemplado pelo Programa de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Saúde Pública (Inova-ENSP). A pesquisa teve por objetivo avaliar as condições de saúde, funcionalidade e incapacidade de idosos que residem em instituições de longa permanência, públicas ou filantrópicas, dos municípios de Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Juiz de Fora (MG) e Rio de Janeiro (RJ), sendo realizada em 11 instituições dessas cidades, com um total de 760 idosos.
De acordo com Inês, os idosos institucionalizados são um grupo diferenciado, e o processo de institucionalização no Brasil tem características peculiares em relação aos países desenvolvidos. "Normalmente, no Brasil, os idosos vão para instituições de longa permanência em caráter definitivo. Diferente dos EUA, por exemplo, onde muitos se programam para isso como uma opção própria, aqui não costuma ser uma escolha, e sim uma necessidade", afirmou. O levantamento de dados sobre as condições de saúde dos idosos institucionalizados já foi finalizado, e a segunda etapa da pesquisa está em curso. "Ser contemplado pelo Inova- ENSP foi muito importante para o desenvolvimento das atividades do grupo. Na realidade, queremos trabalhar em uma linha de pesquisa que aborde o câncer e outros aspectos relacionados ao envelhecimento. A intenção é que esse grupo cresça à medida que pesquisadores da nova geração sejam incorporados", destacou Inês.
Pesquisas que serão apresentadas no congresso
Segundo Inês, os orientandos que apresentarão seus estudos no congresso trabalham diferentes interfaces do envelhecimento. A aluna de doutorado Lívia Santiago, que também cursou mestrado acadêmico na ENSP, estuda a fragilidade em idosos institucionalizados. Os idosos frágeis apresentam menor capacidade de responder a situações adversas, como uma doença ou uma perda emocional, e constituem um grupo com alto risco de adoecimento e mortalidade, que ainda é pouco estudado no Brasil. De acordo com Inês, o trabalho que será apresentado por Lívia é uma continuação da dissertação de mestrado na qual ela analisou a saúde autorreferida de homens idosos de Juiz Fora. Foi observada uma associação entre saúde autorreferida regular ou ruim e a mortalidade no período de dois anos. Para o trabalho que será apresentado no congresso, a aluna estendeu o segmento dos idosos para quatro anos e levantou as causas associadas à mortalidade. "Ela analisou todas as causas de morte, a causa básica e as demais causas declaradas no óbito, além de sua distribuição nesse grupo de idosos."
Estudos na área do envelhecimento também estão sendo realizados por alunos de outras cidades nas quais a pesquisa sobre idosos institucionalizados está sendo desenvolvida. João Francisco Santos da Silva, que cursou o Mestrado Profissional em Vigilância em Saúde da ENSP e, atualmente, está cursando doutorado no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, coorientado por Inês, também apresentará um trabalho no congresso. O seu estudo avaliou a necessidade de cuidados paliativos para indivíduos com câncer internados em hospitais do SUS em Campo Grande-MS.
Outros dois trabalhos, que também serão apresentados no congresso, abrangem a temática do câncer e envelhecimento. O também aluno do mestrado acadêmico da ENSP e atual doutorando Laércio Lima Luz está estudando a avaliação geriátrica multidimensional em idosos com linfoma. Segundo ele, a intenção do grupo é estudar também outras localizações como próstata, mama, colo-retal e pulmão, localizações frequentes de câncer em idosos. "Para o congresso particularmente, estou levando dois trabalhos: um voltado para a tendência da mortalidade por câncer de próstata no Brasil e outro sobre tendência da mortalidade por neoplasias hematológicas em idosos no Brasil", explicou. Segundo o doutorando, os dois trabalhos apontam uma tendência de crescimento da mortalidade por neoplasias em idosos no Brasil.
Além disso, outro trabalho que será apresentado no congresso está relacionado aos instrumentos de triagem para avaliação das condições de saúde do idoso. De acordo com Laércio, os instrumentos são elaborados em países desenvolvidos e precisam ser adaptados para a realidade brasileira. "Dentro do projeto contemplado pelo Inova-ENSP, estamos testando alguns instrumentos de avaliação multidimensional na população de idosos institucionalizados." Ainda de acordo com Laércio, o estudo que analisa os instrumentos de avaliação geriátrica multidimensional, que será apresentado no congresso, faz parte de sua tese de doutorado. "Esse trabalho avalia a aplicabilidade desses instrumentos na realidade brasileira e sua capacidade de identificar os idosos que necessitam passar por avaliações mais abrangentes", apontou.
A pesquisadora e orientadora relata que serão seis trabalhos no total – incluindo um sobre a temática da esquistossomose – apresentados no formato de pôster, além de outros que serão publicados em periódico com os anais do congresso, que totalizam mais cinco, sendo dois, produtos do estudo contemplado pelo Inova-ENSP. Para Inês, o congresso é uma excelente oportunidade para a troca de experiências, pois estarão presentes pesquisadores de todo o mundo, entre eles epidemiologistas renomados como Richard Peto e Sander Greenland. "Haverá um número expressivo de trabalhos voltados para as áreas de doenças crônicas e de envelhecimento, que são fundamentais para o desenvolvimento dos nossos estudos."
De acordo com Laércio, esse congresso é uma ótima oportunidade para apresentar os trabalhos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa. Os estudos apontam para um expressivo incremento na mortalidade por câncer em idosos, especialmente no subgrupo com 80 ou mais anos. "Com esses trabalhos, esperamos chamar a atenção para essas questões e estimular o desenvolvimento de novos estudos sobre essa temática em nosso país", finalizou.