Fiocruz promove capacitação em malacologia no Estado do Rio

Diferenciar as espécies de caramujos, identificando aqueles que podem transmitir doenças, e conhecer as medidas de controle que devem ser adotadas em cada caso, bem como reconhecer os moluscos exóticos. Esses foram alguns dos objetivos de um treinamento oferecido pelo Laboratório de Malacologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) a profissionais das prefeituras do Rio de Janeiro e de Nova Iguaçu que atuam em órgãos ligados à saúde e ao meio ambiente. Promovido em parceria com o Laboratório Central Noel Nutels (Lacen-RJ), o curso ocorreu de 23 a 27 de janeiro.

Coordenadora da atividade, Monica Ammon Fernandez, pesquisadora do Laboratório de Malacologia, conta que o curso é oferecido anualmente, com edições realizadas em diferentes estados, por meio de parcerias. “O objetivo é conscientizar os profissionais para a importância da vigilância epidemiológica e oferecer ferramentas que facilitem esta atuação. Por isso, buscamos apresentar as espécies de caramujos que podem transmitir doenças, as parasitoses associadas aos moluscos e as medidas de controle, além de abordar aspectos técnicos, como a coleta de moluscos e o envio de amostras para análise”, afirmou a especialista, acrescentando que a formação de recursos humanos é uma das atividades desenvolvidas pelo Laboratório de Malacologia enquanto Serviço de Referência Nacional para o Ministério da Saúde em Esquistossomose e Malacologia.

A maior precisão na difusão de informações também é um dos objetivos do curso, uma vez que muitos alunos têm contato direto com a população ao desempenhar suas atividades. “Nessa turma, contamos com a participação de agentes de endemias e funcionários que atuam no controle de pragas e vetores, que são frequentemente abordados por moradores com dúvidas relacionadas aos riscos representados pelos caramujos e as formas de eliminação”, comentou Monica.

Com atividades teóricas e práticas, o curso apresentou aos alunos um panorama da diversidade de moluscos encontrados no Brasil, discutindo aspectos importantes para a saúde humana e para o meio ambiente. Uma das espécies destacadas foi o caramujo terrestre Achatina fulica, popularmente conhecido como caramujo gigante africano. Este molusco foi introduzido no Brasil na década de 1980 e se espalhou pelo país, estando presente em todos os estados brasileiros. Sua expansão gerou um problema ambiental e econômico, além de grande incômodo para a população e risco para a saúde pública, por ser o principal transmissor do verme Angiostrongylus cantonensis, causador da meningite eosinofílica, também chamada de angiostrongilíase cerebral. [Saiba mais sobre a doença]

Outras espécies enfatizadas nas aulas foram os caramujos do gênero Biomphalaria. Encontrados na água doce, esses moluscos podem transmitir o verme Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. O estado do Rio de Janeiro não é uma área endêmica para a doença, registrando um baixo número de casos, transmitidos em poucas localidades. No entanto, o conhecimento do molusco é importante para que a vigilância possa ser realizada. “A esquistossomose é um problema importante em muitas áreas do Nordeste e no Sudeste, principalmente em Minas Gerais. Na capital fluminense e em Nova Iguaçu, o caramujo africano é o molusco que mais preocupa e ações conjuntas como esta devem ser estimuladas, melhorando a qualidade de vida da população e estimulando os profissionais a serem multiplicadores do conhecimento”, disse a pesquisadora.